O amor assume formas tão distintas!

Talvez por causa da educação que (não) tive, nunca gostei de amarras. Quando alguém me diz "tens que...", seja a que título for, algo cá por dentro se revolve. Claro que há alturas em que tenho que, mas nunca para isso o amor é chamado. Afinal, também eu tenho que ganhar a vida. Mas no amor não tenho que. Quero, quero querer, mas não tenho que.

Assusta-me sempre um bocado quem precisa de amarrar para amar. Ainda esta semana uma das minhas filhas sentia-se meio perdida porque chegou a hora de os seus amigos da faculdade irem para Erasmos e ela não. Sabe que vai ficar só durante uma data de tempo e ela nunca soube muito bem lidar com isso. Depois lá conversamos e aconselhei-a a mudar de agulha, como muitas vezes digo, a concentrar-se e em centrar-se um pouco mais em si para ficar menos dependente dos outros para depois então poder enveredar rumo a novos horizontes.

Levei muitos anos até conseguir ser emocionalmente independente. Curioso, quando amo intensamente (e há outra forma de amar?) a minha mais-que-tudo há quase 28 anos, quando com ela passei a esmagadora maioria dos meus dias e noites, quando até com ela trabalho nos mesmos locais e nos mesmos projetos. Onde está então a independência emocional?
Nestas, como noutras coisas importantes da vida, tenho como referência de amor a forma como Deus nos ama. Deus não precisa de nós, é Deus, não precisa de coisa nenhuma. No entanto, Deus quer precisar de nós, de cada um de nós, acompanha cada um dos nossos momentos, e nada se passa na nossa vida em que Ele queira estar ausente. E, porque nos ama, apesar de toda a nossa história pessoal e coletiva, apesar de nem sempre as coisas correrem do melhor modo para o seu lado, está sempre disponível para nós. Deus, inteiramente livre, concede-nos inteira liberdade para sermos amados. E nós, sendo amados, saboreando esse amor, queremos ser ainda mais amados. É justamente essa ânsia que nos faz caminhar e crescer no amor de Deus.

Assim como Deus não precisa de nós, também nós não precisamos de Deus para (sobre)viver. Da mesma forma, tanto eu como a minha mais-que-tudo não precisamos um do outro para (sobre)viver.
Então, porque nos amamos?
Porque nos queremos um do outro tão profundamente?
Primeiro, porque tivemos a sorte de, entre tanta possibilidades de olhares, os nossos olhos se terem encontrado. E nós neles.
Depois, porque sabemos que viver sem querer pertencer a alguém é viver na solidão profunda.

E isso, convenhamos, não é viver.


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