Numa das reuniões de trabalho que tive ontem, avaliamos a Via Sacra que tivéramos antes do período de férias. Creio que foi um momento muito rico para todos nós, com várias partilhas que espelham a enorme diversidade de sensibilidades mas expressam o quanto podemos todos aprender uns dos outros.

Para mim, que venho de outras andanças, poder celebrar a fé com aqueles com quem trabalho e que fazem parte do meu dia a dia é um enorme privilégio. Recordo-me perfeitamente daquelas alturas em que ainda não trabalhava aqui mas participava em alguns momentos de oração por via da minha mais-que-tudo, e de como isso era um enorme oásis, particularmente quando comparado ao meu mundo de então, feito de negócios e competitividades extremadas. Recordo-me perfeitamente da minha dificuldade em entender a normalidade, a quase apatia, com que aqueles que hoje são meus companheiros de jornada participavam nessas celebrações. Não conseguia entender como eles não percebiam como são privilegiados por terem, no seu local de trabalho, a possibilidade de se encontrarem, de rezarem juntos, de celebrar a fé em verdadeira comunidade. Aliás, ainda hoje, volvidos oito anos, tenho a mesma dificuldade em perceber essa apatia, que se mantém em alguns dos meus colegas. Só pode ser por desconhecimento do que se passa "lá fora".

Apesar dos meus cansaços, apesar das minhas correrias, apesar de não ter tido tempo para nada, nunca perco a consciência que sou um privilegiado. Com o Centro Comunitário, que me dá tanto que coçar, tenho a oportunidade de me envolver no que se passa "lá fora" e permite-me, ao viver em dois mundos completamente diferentes - e até antagónicos - reconhecer o tanto que temos "cá dentro". Apesar de todas as canseiras, o meu quotidiano mantém-me permanentemente ligado à terra e consciente que há mil maneiras possíveis de as coisas serem muito mais difíceis, que há pessoas a dois passos de nós para quem a questão não é se trabalham muito ou pouco, ou se descontam muito ou pouco, mas como hão de conseguir ter água, luz ou comida para os filhos. Mesmo. Sem qualquer retórica!

Claro que cada um de nós tem a sua própria medida de problema, claro que ninguém se consola pelas dificuldades dos outros, claro que os problemas dos outros não resolvem os meus. No entanto, acredito que  a realidade que me envolve me ajuda a interpretar a minha própria realidade e a perceber que tenho muitos motivos para dar Graças.
E mais ainda para as tentar fazer chegar aos outros.

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