Decidi mudar de agulha. Assim. De repente. Estava já com muito trabalho adiantado, mas escrever sobre o que distingue a paróquia das restantes comunidades - nomeadamente aquela a que verdadeiramente pertenço, a escolar - seria certamente importante mas não é isso o que me move, o que me preenche os meus dias. É outra coisa. Bem mais concreta. Bem mais quotidiana. Como hei de conseguir levar Jesus ao Centro? Como hei de evangelizar com quem não quer saber destas coisas para nada? Como hei de conseguir fazê-los sentir que são eles os principais interessados em Jesus, que foi justamente para eles que Ele veio? Como hei de eu conseguir contornar a imagem enraizada de uma igreja de privilégios para lhes apresentar uma Igreja de pessoas? Terei que desligar a Igreja de Jesus para voltá-la a ligar mais tarde, com outros olhos? Como hei de falar de Jesus, fazê-los sentir Jesus, fazê-los perceber o encontro, desejar o encontro? Porque raio teima em não sair de cá de dentro a inquietação de ver Moçambique pejado de muçulmanos que, por interesse ou não, os apoiam, os alimentam, os educam e dão um sentido às suas vidas, enquanto eu encolho os ombros? Terei que ficar à espera que eles venham até Ramalde para me mexer?

São estas as questões que me movem, não as meramente teóricas. São perguntas que me coloco a mim próprio, todos os dias, no Centro e no Colégio, na minha paróquia. Foi, afinal justamente para isto que me meti a fazer a licenciatura: para tentar perceber melhor Jesus, para tentar aprender mais com Ele, para tentar conseguir mais a partir d'Ele, para tentar levá-lo melhor e, com Ele e a partir d'Ele, alterar significativamente a vida dos que se julgam menos dignos que os outros.

Desde que tomei a decisão, todo eu vibro em torno do meu objetivo. Não parei ainda de pensar na forma de pegar no texto, nos livros que irei ler, nas horas que terei que ocupar para me preparar. Mas, muito mais importante, revisitaram-me as pessoas com quem partilhei várias experiências fortes de vida e de fé ao longo destes anos, pessoas muito diferentes, em condições muito diferentes, em processos de busca só seus, em função de circunstâncias muito diferentes. Com todas elas, em todas elas, em Moçambique, em Santiago, em Taizé, nos Dias de Reflexão, no ComTigo, na paróquia, nas Colonias, no Centro, no Colégio, eu procurei-O, procurando-me incessantemente. Em algumas delas encontrei-me encontrando-O.

Esta noite, mais uma vez, não consegui dormir em condições.
Mas desta feita foi por um bom motivo.

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