20130430
Há lugares por onde passo todos os dias. Sem sair do sítio. Fisicamente, claro, porque esses lugares que visito todos os dias têm o condão de me transportar para longe de mim. Lugares que me fazem rezar, dar Graças, com a maior das facilidades; lugares que me questionam, me interpelam profundamente; lugares que me recordam pessoas e momentos e outros lugares onde fui feliz... ou infeliz; lugares que, invariavelmente, enriquecem os meus dias. e me tornam mais rico, claro. Vejo das mais belas e mais inspiradoras fotos que alguma vez vi, de lugares, esses sim, físicos, de pessoas, de sorrisos, de alegria, dor e sofrimento. Mundos completamente diferentes do meu mundo de todos os dias mas que, ao fim de algum tempo, começam a ser também parte do meu mundo. Leio dos mais belos e inspiradores textos, artigos e notícias, publicados aqui na esquina ou do outro lado do mundo, emociono-me, por vezes sorrio como um tolinho, aparentemente sozinho, mas de alguma maneira em boa companhia. Outras vezes zango-me, a sério, incrédulo com tamanha estupidez e tacanho. E encontro-me! Muitas vezes! Comigo, por intermédio do que vejo e leio, pelas viagens que me fazem fazer, bem cá por dentro. Encontro-me com amigos, amigos mesmo, velhos e novos, de carne e osso, que habitam algures dentro de mim e revisito-os, reescuto-os, relembro algumas das nossas conversas, das nossas viagens, nessa viagem que é, por momentos, também nossa. Encontro-me também com amigos que nunca conheci mas cujas reflexões merecem o meu respeito, a minha admiração, embora nem sempre a minha concordância. Em todos encontro-me com Deus. Nos que me fazem sorrir e zangar, nos que me emocionam e me revoltam e me questionam e me fazem tentar descortinar como havemos de dar a volta à situação, nos que me interpelam de alguma forma, porque acredito que me encontro com Deus em tudo menos na indiferença, que creio ser o maior dos pecados porque é a única coisa que me desvia o meu olhar do seu olhar. Verdadeiramente!
20130429
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que me sentei num avião. Ia para Londres, estava mais fascinado que nervoso, apesar de só me vir à cabeça aquelas cenas de filmes de segunda categoria em que os aviões caem e toda a gente morre. Desde aí, instintivamente penso sempre a mesma coisa quando me sento naquelas cadeiras desconfortáveis e olho em volta: "olha as pessoas com que vou morrer." E entretenho-me a imaginar como cada uma delas reagiria. Logo que o avião avança na pista, desligo deste nonsense, e sigo a minha viagem calmamente.
Discutíamos lá em casa, um dia destes, o meu exacerbado optimismo/conformismo. Eu dizia que não conheço muitas pessoas tão felizes quanto eu e, à volta da mesa, tive quem me defendesse e quem visse nisso algo profundamente limitador. Os primeiros diziam que sermos felizes é o objectivo e o propósito fundamental da nossa vida, e os outros, que o facto de nos sentirmos felizes (e conformados com a nossa situação) é um forte impedimento ao progresso e à evolução. Privilégios de quem tem muitos filhos e o hábito de fazer as refeições em família e sem televisão.
Eu sou um optimista, sou feliz, e, normalmente, gosto muito do que tenho e sinto orgulho no que vou alcançando. Para um puto do bairro (que sempre serei) assustado com a vida e morrendo de medo do futuro, quando olho para trás tenho que concluir que não me tenho saído nada mal, apesar de tudo. Em termos pessoais, sou e tenho muitíssimo mais do que alguma vez pensei ser possível.
No entanto, francamente não sei se o meu optimismo é inato ou construído. Se resulta daquilo que sou ou do exercício de olhar à minha volta, preparar-me para o pior, incorporá-lo, e depois perceber que a minha realidade é outra. E ficar feliz com isso.
Uma das muitas recordações da infância que não sei bem se correspondem à realidade ou se são construídas pelo meu subconsciente, trata-se de um quadro em que um casal de miúdos estão à beira de um poço mas protegidos por um anjo da guarda. Por causa desse quadro, durante muitos anos senti que nada de verdadeiramente mau me poderia acontecer. À força de pancada, a vida foi-se encarregando de tentar desmontar essa minha confiança profunda, quase inabalável. À força de presença, de perseverança, e de amor, aqueles que me amam foram-se encarregando de restaurar a confiança recordando-me que, afinal, enquanto os tiver, nada de verdadeiramente mau me pode acontecer.
Não conheço melhor motivo para continuar a ser optimista.
20130424
Uma das discussões mais recorrentes que tenho com alguém de quem gosto muito (e que considero como minha mãe) é acerca da verdade.
Confesso que tendo a não gostar dos paladinos da verdade. Aliás, eu nem gosto dos paladinos de coisa nenhuma, mas da verdade, então... Pessoas cheias de si, da sua autoridade moral, que vêem a vida do alto do seu pedestal enquanto dificilmente nos suportam, a nós, pobres coitados e pecadores, absolutamente errantes, perdidos à espera de uma migalha da sua imensíssima sabedoria. Não posso com pessoas cheias de si e uma das coisas que me derruba com maior facilidade é quando alguém me diz que eu estou cheio de mim. E isso, infelizmente, acontece algumas vezes. E é motivo para passar os dias seguintes em reclusão à procura do que falhou. Adiante!
Esta questão da verdade vem desde sempre, e desde sempre eu a sinto como uma acusação. A pessoa em causa diz sistematicamente coisas como "a verdade acima de tudo" ou "a verdade, custe o que custar, doa a quem doer" e termina sempre com o argumento da autoridade "Jesus sempre disse a verdade". Um dia destes, algures depois do domingo do evangelho da pecadora, eu disse-lhe que Jesus, acima da verdade, colocava a caridade. Que se quisesse ter-lhe-ia atirado com a verdade à cara, que lhe teria dito para se deitar na cama que tinha feito, mas o que Ele fez foi dar maior importância à pessoa que tinha diante de si que à verdade propriamente dita. Não a escondendo, não a negando, não a desvalorizando, confrontou os acusadores com a sua própria verdade mas mas escolheu confrontar a mulher pecadora consigo própria, com os seus desígnios, com o seu futuro e conseguiu que ela desse o salto para retomar a dignidade que, ela e os outros, julgavam perdida. E deu-lhe a possibilidade de ser ela própria a tomar a sua própria vida nas suas mãos : "vai e não tornes a pecar".
É incrível como Jesus liga o descomplicador!
20130423
Decidi mudar de agulha. Assim. De repente. Estava já com muito trabalho adiantado, mas escrever sobre o que distingue a paróquia das restantes comunidades - nomeadamente aquela a que verdadeiramente pertenço, a escolar - seria certamente importante mas não é isso o que me move, o que me preenche os meus dias. É outra coisa. Bem mais concreta. Bem mais quotidiana. Como hei de conseguir levar Jesus ao Centro? Como hei de evangelizar com quem não quer saber destas coisas para nada? Como hei de conseguir fazê-los sentir que são eles os principais interessados em Jesus, que foi justamente para eles que Ele veio? Como hei de eu conseguir contornar a imagem enraizada de uma igreja de privilégios para lhes apresentar uma Igreja de pessoas? Terei que desligar a Igreja de Jesus para voltá-la a ligar mais tarde, com outros olhos? Como hei de falar de Jesus, fazê-los sentir Jesus, fazê-los perceber o encontro, desejar o encontro? Porque raio teima em não sair de cá de dentro a inquietação de ver Moçambique pejado de muçulmanos que, por interesse ou não, os apoiam, os alimentam, os educam e dão um sentido às suas vidas, enquanto eu encolho os ombros? Terei que ficar à espera que eles venham até Ramalde para me mexer?
São estas as questões que me movem, não as meramente teóricas. São perguntas que me coloco a mim próprio, todos os dias, no Centro e no Colégio, na minha paróquia. Foi, afinal justamente para isto que me meti a fazer a licenciatura: para tentar perceber melhor Jesus, para tentar aprender mais com Ele, para tentar conseguir mais a partir d'Ele, para tentar levá-lo melhor e, com Ele e a partir d'Ele, alterar significativamente a vida dos que se julgam menos dignos que os outros.
Desde que tomei a decisão, todo eu vibro em torno do meu objetivo. Não parei ainda de pensar na forma de pegar no texto, nos livros que irei ler, nas horas que terei que ocupar para me preparar. Mas, muito mais importante, revisitaram-me as pessoas com quem partilhei várias experiências fortes de vida e de fé ao longo destes anos, pessoas muito diferentes, em condições muito diferentes, em processos de busca só seus, em função de circunstâncias muito diferentes. Com todas elas, em todas elas, em Moçambique, em Santiago, em Taizé, nos Dias de Reflexão, no ComTigo, na paróquia, nas Colonias, no Centro, no Colégio, eu procurei-O, procurando-me incessantemente. Em algumas delas encontrei-me encontrando-O.
Esta noite, mais uma vez, não consegui dormir em condições.
Mas desta feita foi por um bom motivo.
20130422
Sou um homem de rotinas. Gosto das mesmas coisas nos mesmos dias à mesma hora. Ainda na semana passada alguém comentou o que seria de mim sem relógio. Na realidade, não gosto de me sentir demasiado solto, sem hora marcada, à deriva. Talvez por causa disso, apesar das minhas origens, sempre evitei o álcool e as drogas. E nem sequer gosto dos escorregas porque me faz muita impressão não ter qualquer domínio sobre o que me pode acontecer enquanto deslizo. Aquilo que para outros é pura diversão para mim é pura confusão.
Uma das minhas rotinas matinais é uma visão geral dos blogues e das notícias. Percorro-os rapidamente, que o tempo não dá para mais, à procura de algo que salte à vista, que me inspire e que me ponha a pensar. Hoje foi a luta entre o bem e o mal, que tem lugar dentro de cada um de nós, num texto formidável do Leonardo Boff, que aproveitei para publicar num outro blogue. Noutros dias pode ser qualquer outra coisa: a oração da manhã da renascença, uma foto, um título de um artigo, uma tira de bd... não sou esquisito.
Creio que uma das minhas maiores qualidades - que no entanto por vezes complica muito as coisas - é a abertura para aprender o que quer que seja vindo de onde quer que seja. Não ligo puto a personalidades ou a cargos e muito menos a títulos. Já convivi com supostos mestres pagos a peso de ouro que são autênticos balões cheios de coisa nenhuma e já tive a sorte de ter longas conversas com gente supostamente rude e ignorante que sabe muito da vida. E estava disponível para me ensinar. Também já aprendi verdades simples, enormes, com miúdos, já tive verdadeiras lições de cristianismo vindas da mais esquerda da política e ainda há pouco tempo, em Taizé, tive profundas e sábias aulas de teologia numa conversa íntima, entre amigos, enquanto entretínhamos a fome com umas bolachinhas. Nunca considerei que houvesse um tempo certo ou um lugar próprio para aprender o que quer que seja. Sempre me bastou ter as portas abertas e o olhar atento para me maravilhar com tanta gente que sabe tanto! E sempre aprendi muito com isso.
PS: Agora mesmo, depois de reler o que escrevi - e escrevo sempre deixando que os meus dedos fluam pelo teclado sem lhes dar muita importância - verifiquei que acabava em plena contradição coma forma como comecei. Típico. Sou mesmo assim.
20130420
O amor assume formas tão distintas!
Talvez por causa da educação que (não) tive, nunca gostei de amarras. Quando alguém me diz "tens que...", seja a que título for, algo cá por dentro se revolve. Claro que há alturas em que tenho que, mas nunca para isso o amor é chamado. Afinal, também eu tenho que ganhar a vida. Mas no amor não tenho que. Quero, quero querer, mas não tenho que.
Assusta-me sempre um bocado quem precisa de amarrar para amar. Ainda esta semana uma das minhas filhas sentia-se meio perdida porque chegou a hora de os seus amigos da faculdade irem para Erasmos e ela não. Sabe que vai ficar só durante uma data de tempo e ela nunca soube muito bem lidar com isso. Depois lá conversamos e aconselhei-a a mudar de agulha, como muitas vezes digo, a concentrar-se e em centrar-se um pouco mais em si para ficar menos dependente dos outros para depois então poder enveredar rumo a novos horizontes.
Levei muitos anos até conseguir ser emocionalmente independente. Curioso, quando amo intensamente (e há outra forma de amar?) a minha mais-que-tudo há quase 28 anos, quando com ela passei a esmagadora maioria dos meus dias e noites, quando até com ela trabalho nos mesmos locais e nos mesmos projetos. Onde está então a independência emocional?
Nestas, como noutras coisas importantes da vida, tenho como referência de amor a forma como Deus nos ama. Deus não precisa de nós, é Deus, não precisa de coisa nenhuma. No entanto, Deus quer precisar de nós, de cada um de nós, acompanha cada um dos nossos momentos, e nada se passa na nossa vida em que Ele queira estar ausente. E, porque nos ama, apesar de toda a nossa história pessoal e coletiva, apesar de nem sempre as coisas correrem do melhor modo para o seu lado, está sempre disponível para nós. Deus, inteiramente livre, concede-nos inteira liberdade para sermos amados. E nós, sendo amados, saboreando esse amor, queremos ser ainda mais amados. É justamente essa ânsia que nos faz caminhar e crescer no amor de Deus.
Assim como Deus não precisa de nós, também nós não precisamos de Deus para (sobre)viver. Da mesma forma, tanto eu como a minha mais-que-tudo não precisamos um do outro para (sobre)viver.
Então, porque nos amamos?
Porque nos queremos um do outro tão profundamente?
Primeiro, porque tivemos a sorte de, entre tanta possibilidades de olhares, os nossos olhos se terem encontrado. E nós neles.
Depois, porque sabemos que viver sem querer pertencer a alguém é viver na solidão profunda.
E isso, convenhamos, não é viver.
Talvez por causa da educação que (não) tive, nunca gostei de amarras. Quando alguém me diz "tens que...", seja a que título for, algo cá por dentro se revolve. Claro que há alturas em que tenho que, mas nunca para isso o amor é chamado. Afinal, também eu tenho que ganhar a vida. Mas no amor não tenho que. Quero, quero querer, mas não tenho que.
Assusta-me sempre um bocado quem precisa de amarrar para amar. Ainda esta semana uma das minhas filhas sentia-se meio perdida porque chegou a hora de os seus amigos da faculdade irem para Erasmos e ela não. Sabe que vai ficar só durante uma data de tempo e ela nunca soube muito bem lidar com isso. Depois lá conversamos e aconselhei-a a mudar de agulha, como muitas vezes digo, a concentrar-se e em centrar-se um pouco mais em si para ficar menos dependente dos outros para depois então poder enveredar rumo a novos horizontes.
Levei muitos anos até conseguir ser emocionalmente independente. Curioso, quando amo intensamente (e há outra forma de amar?) a minha mais-que-tudo há quase 28 anos, quando com ela passei a esmagadora maioria dos meus dias e noites, quando até com ela trabalho nos mesmos locais e nos mesmos projetos. Onde está então a independência emocional?
Nestas, como noutras coisas importantes da vida, tenho como referência de amor a forma como Deus nos ama. Deus não precisa de nós, é Deus, não precisa de coisa nenhuma. No entanto, Deus quer precisar de nós, de cada um de nós, acompanha cada um dos nossos momentos, e nada se passa na nossa vida em que Ele queira estar ausente. E, porque nos ama, apesar de toda a nossa história pessoal e coletiva, apesar de nem sempre as coisas correrem do melhor modo para o seu lado, está sempre disponível para nós. Deus, inteiramente livre, concede-nos inteira liberdade para sermos amados. E nós, sendo amados, saboreando esse amor, queremos ser ainda mais amados. É justamente essa ânsia que nos faz caminhar e crescer no amor de Deus.
Assim como Deus não precisa de nós, também nós não precisamos de Deus para (sobre)viver. Da mesma forma, tanto eu como a minha mais-que-tudo não precisamos um do outro para (sobre)viver.
Então, porque nos amamos?
Porque nos queremos um do outro tão profundamente?
Primeiro, porque tivemos a sorte de, entre tanta possibilidades de olhares, os nossos olhos se terem encontrado. E nós neles.
Depois, porque sabemos que viver sem querer pertencer a alguém é viver na solidão profunda.
E isso, convenhamos, não é viver.
20130417
Apesar de ser francamente mau em fazê-lo, poucas coisas me fascinam mais que o trabalho de grupo. Sou mau porque normalmente não consigo pensar com os outros. Preciso de espaço, preciso de tempo, preciso de me concentrar, preciso de ponderar muitas variáveis, e, em grupo, não consigo fazer nada disso. Então, nessas alturas, o que acontece muitas vezes é deitar coisas pela boca fora e depois arrepender-me do que disse.
No entanto, em função das circunstâncias e das equipas, duas coisas distintas podem acontecer. Uma delas é ficar caladinho com um chasco e limitar-me a aprender. Faço-o quando estou suficientemente calmo e seguro de mim para que me possa permitir passar despercebido. E também quando estou rodeado de sábios, o que, felizmente, acontece algumas vezes. E tenho ainda o bónus de, por vezes, ser considerado minimamente inteligente, o que não é mau de todo. A outra coisa é confiar muito em quem está à volta da mesa. Aí, acontece uma mistura abençoada: porque estou com a minha gente, arriscamos o eventual disparate sem o ponderarmos devidamente mas não ficamos agarrado a ele, antes os juntamos aos restantes e, juntos, fazemos as ideias crescer. É, de longe, o processo que mais me agrada. Por aqui já conseguimos grandes coisas à custa do que pensávamos serem disparates. Mas é preciso ter muita confiança nos outros para me arriscar a este ponto.
Acabo de chegar de uma reunião do Centro. Uma boa reunião. Apesar de ainda não confiarmos totalmente todos uns nos outros, houve propostas, com resoluções, com pontos de partida, com algumas visões de futuro. Pela primeira vez, não gastamos a maior parte do tempo a discutir o que não conseguíramos fazer, porque as coisas funcionaram na última semana. Pela primeira vez, debruçamo-nos mais sobre o futuro que sobre o passado.
Creio que agora estamos todos um pouco mais resistentes ao insucesso, um pouco mais realistas e, por isso mesmo, muito mais assertivos e eficazes nas ações. Hoje saí com a sensação que, finalmente, estamos a começar a caminhar. Pelo menos para fora. Temos ainda muita pedra a partir no caminho interior, naquele que é feito pela parte de dentro de cada um de nós, naquele que nos reserva um lugar especial. Enquanto não formos capazes de o fazer, de peito aberto, o nosso trabalho sairá sempre comprometido.
Eficaz, talvez. Mas será sempre trabalho.
20130416
O fim de tarde de domingo passado foi um daqueles que permanecerão na nossa memória colectiva. Os primeiros raios de sol quente, a ida ao Parque da Cidade e à Foz (o nosso local de eleição: bom, bonito e barato) e uns momentos de descontracção comum com muita música, muita brincadeira, muitas gargalhadas... muito nós.
Evidentemente, não é sempre assim. Nem sequer é isto que constitui o nosso quotidiano. Todos estamos completamente empenhados nos nossos trabalhos, nos nossos estudos e, mesmo ao fim de semana, entre equitação, futebol, escuteiros, catequese, coral e grupo de jovens, não é fácil encontrar um tempo para nós. Por isso as refeições são tão importantes para nós: é o local e a hora em que partilhamos, conversamos, discutimos, discutimos e voltamos a discutir. E muitas vezes acabamos todos a cantar enquanto alguém arruma a cozinha. O pequenito - tenho mesmo de começar a deixar de lhe chamar pequenito - aqui há uns meses, instituiu a noite do cinema em família: ao princípio de uma das noites do fim de semana, sempre que podemos, sentamo-nos na sala e vemos um filme todos juntos. Quando calha bem, até temos pipocas e tudo! Normalmente, começamos todos a ver o filme mas não acabamos todos, porque invariavelmente alguém adormece a meio. Mas o que importa é que estamos juntos. A fazermos algo juntos.
No início não sabíamos bem como conciliar as nossas vidas lá em casa. O compromisso com o outro, das mais variadas formas, sempre foi uma parte importante do que éramos enquanto pessoas antes de nos conhecermos e do que escolhemos ser como namorados e a determinada altura não foi fácil conciliar isso com o que queríamos ser enquanto família. Houve até um período, enquanto os nosso filhos eram pequenos, que tivemos que suspender todas as actividades e vivíamos quase exclusivamente para eles. No entanto, quando começaram as suas catequeses, fomos recomeçando lentamente as nossas actividades e hoje todos estamos envolvidos, de alguma forma, com algo que não seja o nosso próprio umbigo.
Aos poucos fomos aprendendo, juntos, a rentabilizar o nosso tempo, e a roubar tempo ao nosso tempo para estarmos juntos, para partilharmos as nossas vidas, para cantarmos e rirmos, para consolidarmos o que entendemos ser a nossa maneira, muito própria, de sermos família. Como qualquer família, também temos momentos maus, de dar com a cabeça na parede, também vacilamos, também temos medo, também vamos andando às apalpadelas sem saber muito bem o que fazer. Mas o importante é que o fazemos juntos, no mesmo barco, com os olhos postos no mesmo horizonte e, fundamentalmente, sabendo que, quando nos sentimos mais perdidos, podemos confiar no mesmo timoneiro.
20130415
Hoje, quando vinha trabalhar, ouvi na rádio que foi criado um rim artificial que funciona. A primeira coisa que pensei foi que qualquer dia não morremos. E a segunda foi: agora é que é precisa a religião. Se não morrermos naturalmente, teremos que escolher a melhor altura para morrer. E quem não tem fé, como poderá escolher? Como é que alguém escolherá entre o que tem, ainda que seja mau, e o nada? Como é que alguém, a determinada altura da sua vida, poderá autorizar-se a ser nada? Como é que alguém que passou toda a sua vida a conquistar um lugar, que é sempre importante para alguns, se permitirá ser nada? Como é que alguém que não tem fé escolhe que quer ser nada?
Há pessoas para quem a única coisa que as impede de se considerarem verdadeiros deuses é a morte. Outras, em sentido oposto, encontram na imponderabilidade e inevitabilidade da morte a desculpa para a forma como (não) vivem a sua vida. Pessoas ou demasiado cheias de si ou demasiado vazias de esperança, para quem o tudo e o nada se tocam irremediavelmente, que se consideram donos e senhores de si e do seu destino, donos e senhores da sua própria vida, que por isso desconhecem o significado da gratidão profunda.
Como irá ser para eles? Como irá ser para nós? Como irá ser para aqueles que nos rodeiam e nos amam? Como enfrentarão a obrigatoriedade de nos deixarem morrer? Como irá ser para a sociedade em geral? Decretar-se-à a morte? Definir-se-à uma idade limite para todos, qualquer que seja a sua circunstância ou, nesta como em muitas outras coisas na vida, haverá alguns com mais direitos que outros, em função da qualidade dos seus advogados? Quem morrerá antes? Os que não têm dinheiro para manterem a própria vida? E os que o têm? Poderão perpetuar-se?
São questões controversas, estas, que quase parecem de um filme de ficção científica de série B. No entanto, creio que não andaremos longe da altura em que as teremos que colocar a nós próprios.
20130411
No Dia de Reflexão andamos, como de costume, à volta da Dignidade das pessoas. O trabalho é todo sobre o encontro de Jesus com a Samaritana, depois aplicado às várias situações do nosso quotidiano: a tremenda importância dos acontecimentos aparentemente menores, as consequências dos rótulos que nos colocamos, que deixamos que os outros nos coloquem e que colocamos nós próprios nos outros; a importância de permitirmos o futuro não sobrevalorizando os erros do passado, o facto de, para Jesus, o que eu quero ser ser sempre mais importante que aquilo que eu vou conseguindo ser...
Em poucas turmas chegaram à Dignidade com a facilidade com que esta turma chegou. Apanharam logo o sentido do verdadeiro encontro e conseguiram transportá-lo para o seu quotidiano. No entanto, perceber uma coisa é bastante diferente de ter a coragem para a viver.
Foi pena. Mas quero acreditar que possa ter servido para alguma coisa.
Cheguei a correr para voltar a sair a correr e disseram-me: senta aqui um minuto, que temos saudades tuas. Sentei, conversamos por breves minutos - sempre menos que os desejados - e fomos à nossa vida. Foi curto mas muito agradável, num daqueles momentos que me levam a confirmar a sorte que tenho, e a dar Graças pelos que comigo vão caminhando.
Em sentido oposto, num outro momento, senti uma enorme necessidade de justificar a minha parca disponibilidade perante alguém que não estava habituado a ter-me aos bocados. Nem preparado para o fazer. Apesar do que lhe disse e escrevi, sei que de pouco adiantou. Há situações perante as quais as palavras sobram, só atrapalham, só incomodam e conduzem a mal entendidos. Estas nunca são situações fáceis, para mim. Detesto a impotência de não conseguir fazer sentir o quanto gosto de alguém, detesto não conseguir fazer vibrar o olhar, e odeio ficar parado, como fico sempre, à espera que um qualquer raio caia do céu e faça entender o que eu não consigo fazer entender. Perante a minha manifesta impotência, respiro fundo, e tento recorrer à sabedoria do Mestre Tempo. O tempo há de fazer entender..., o tempo há de resolver..., o tempo vai demonstrar que... E o Tempo tem demonstrado que, se é mesmo importante - e é mesmo importante - e se não fechar portas, tudo fica claro. E resolvido.
Entretanto, eu próprio vou-me reencontrando com o meu amigo Mestre Tempo. Depois de um período muito conturbado, de correria intensa, vou reaprendendo a respirar para encontrar o meu ritmo muito próprio. Organizei-me um pouco melhor, disciplinei-me um pouco mais, permiti-me voltar a sentar e olhar para quem me rodeia. E sorrio. Novamente.
Enquanto sentei e conversei, ainda que por breves minutos, aprendi que quem quer esquecer, acelera; e quem quer recordar, abranda. Sinto um gozo enorme quando alguém põe em palavras o que eu sinto mas não consigo exprimir. Sinto um gozo ainda maior quando isso acontece naqueles momentos aparentemente menores mas que constituem o fundamental da minha vida: um convite, uma pequena pausa, uma breve conversa, um grande reencontro. Amanhã mesmo irei voltar a falar disso em mais um Dia de Reflexão a propósito da Samaritana: um simples pedido - "dá-me de beber" - provoca o encontro mais decisivo da vida daquela mulher.
Quando perderei a mania de pensar que as grandes coisas acontecem nos grandes momentos?
20130408
Na vida, há três coisas que faço muito bem: contas ao dinheiro... dos outros; resolver os problemas,,, dos outros; educar os filhos... dos outros.
Isto, que eu digo muitas vezes e que normalmente é tomado como uma brincadeira, é uma das minhas maiores verdades. É uma daquelas conclusões a que cheguei à força de cabeçada na parede, à medida que me ia consciencializando das minhas insuficiências e percebendo os meus limites. É, por isso, uma verdade vivida, ainda que muito minha.
Hoje conversei com uma mãe angustiada com o seu filho. Enquanto eu lhe dizia que não tinha motivos para essa angústia, que o seu filho é um miúdo em condições, pensei que poderíamos, com facilidade, trocar de papéis. Enquanto eu escutava os motivos das suas preocupações - e os relativizava - pensava que eu próprio jamais os relativizaria se se tratasse de um dos meus filhos, porque os amo profundamente e nada do que com eles e neles se passou, passa ou se perspectiva me é indiferente.
Por isso, não creio que o faria.
Não sendo bem a mesma coisa, ainda há pouco tempo, nas férias da Páscoa, quando conversava acerca das tremendas dificuldades que enfrentamos todos os dias no Centro Comunitário, choveram palpites. Porque não fazemos assim, porque não fazemos assado, se fosse comigo isso não aconteceria, não percebo como continuas nessas condições... Tudo muito giro e muito simples para quem não está no terreno, para quem não está emocionalmente envolvido, para quem não se confronta todos os dias com os olhares que me esperam e me convidam a entrar mal lá chego. Tudo muito giro para quem passa ao largo, vive ao largo, não se deixa mexer por dentro, é hermeticamente fechado. Tudo muito giro para quem quiser. Não para mim.
O envolvimento profundo nas coisas, nas situações, nas pessoas, toldam-me o juízo.
Ainda bem! É sinal de vida.
20130407
Uma das acusações mais constantes que me são feitas, particularmente por aqueles que me amam, é a de incoerência. Que muitas vezes digo uma coisa e faço outra, ou que então, umas vezes digo uma coisa e passado pouco tempo digo o seu oposto.
Confesso que, tirando naquela meia dúzia de convicções profundas que pautam e definem a minha vida, a coerência não faz parte das minhas preocupações quotidianas. Normalmente, não estou muito preocupado com o que disse ou fiz em determinada altura e por isso esqueço-me com muita facilidade. Também nunca me senti muito amarrado a mim próprio, nunca tive grande dificuldade em reconhecer que não sou dono de verdade nenhuma e facilmente encontro no outro razões válidas para defender uma posição que difere da minha.
Esta semana tive um Dia de Reflexão. De uma turma que sabia ser complicada, com alguns alunos com quem tive já uns desaguisados e, justamente por isso, não estava com grande vontade de os acompanhar. No entanto, como gosto ainda menos do jogo do empurra, lá fui. E não me arrependi. No primeiro dia as coisas correram muito bem, a noite foi muito complicada e eles deitaram tudo a perder, mas quando a manhã veio conseguimos ainda minimizar os estragos.
Se eu fosse absolutamente coerente, se eu me agarrasse às minhas convicções, se eu não me deixasse envolver pelas circunstâncias (não é isso que nos torna mais ou menos coerentes?) provavelmente não teria conseguido chegar até eles, não teria conseguido fazê-los pensar e não teria conseguido dar-lhes a conhecer, efectivamente, um Deus para quem o que importa é o que eu quero fazer e não tanto o que fiz, o que quero ser e não o que fui. Provavelmente não me teria deixado cativar pelos seus olhares (sempre o olhar!), pela sua irreverência, e não teria deixado envolver por eles.
Os que me acusam - porque me amam - dizem-me que, desta forma, não sabem com o que podem contar. Que não lhes transmito segurança porque sou muito variável. Eu respondo-lhes sempre que tento sempre ser autêntico e verdadeiro. Naquilo que é minha convicção profunda, sou absolutamente coerente. Naquilo que constitui o que eu chamo a espuma dos dias, estou muito mais preocupado em aprender com o que oiço e vejo que em travar batalhas por coisa nenhuma.
E raro é o dia em que não sinto que aprendi alguma coisa de importante!
20130403
Numa das reuniões de trabalho que tive ontem, avaliamos a Via Sacra que tivéramos antes do período de férias. Creio que foi um momento muito rico para todos nós, com várias partilhas que espelham a enorme diversidade de sensibilidades mas expressam o quanto podemos todos aprender uns dos outros.
Para mim, que venho de outras andanças, poder celebrar a fé com aqueles com quem trabalho e que fazem parte do meu dia a dia é um enorme privilégio. Recordo-me perfeitamente daquelas alturas em que ainda não trabalhava aqui mas participava em alguns momentos de oração por via da minha mais-que-tudo, e de como isso era um enorme oásis, particularmente quando comparado ao meu mundo de então, feito de negócios e competitividades extremadas. Recordo-me perfeitamente da minha dificuldade em entender a normalidade, a quase apatia, com que aqueles que hoje são meus companheiros de jornada participavam nessas celebrações. Não conseguia entender como eles não percebiam como são privilegiados por terem, no seu local de trabalho, a possibilidade de se encontrarem, de rezarem juntos, de celebrar a fé em verdadeira comunidade. Aliás, ainda hoje, volvidos oito anos, tenho a mesma dificuldade em perceber essa apatia, que se mantém em alguns dos meus colegas. Só pode ser por desconhecimento do que se passa "lá fora".
Apesar dos meus cansaços, apesar das minhas correrias, apesar de não ter tido tempo para nada, nunca perco a consciência que sou um privilegiado. Com o Centro Comunitário, que me dá tanto que coçar, tenho a oportunidade de me envolver no que se passa "lá fora" e permite-me, ao viver em dois mundos completamente diferentes - e até antagónicos - reconhecer o tanto que temos "cá dentro". Apesar de todas as canseiras, o meu quotidiano mantém-me permanentemente ligado à terra e consciente que há mil maneiras possíveis de as coisas serem muito mais difíceis, que há pessoas a dois passos de nós para quem a questão não é se trabalham muito ou pouco, ou se descontam muito ou pouco, mas como hão de conseguir ter água, luz ou comida para os filhos. Mesmo. Sem qualquer retórica!
Claro que cada um de nós tem a sua própria medida de problema, claro que ninguém se consola pelas dificuldades dos outros, claro que os problemas dos outros não resolvem os meus. No entanto, acredito que a realidade que me envolve me ajuda a interpretar a minha própria realidade e a perceber que tenho muitos motivos para dar Graças.
E mais ainda para as tentar fazer chegar aos outros.
20130402
Retomo o quotidiano, depois de uma Páscoa que não foi nada fácil. Desta vez não consegui fazer qualquer pausa. Pelo contrário. Um Centro Comunitário a abarrotar de malta nova sem nada que fazer - e, como bem sabia o Padre Américo, é tão importante que estejam ocupados! - umas celebrações pascais a requererem a minha participação, uma casa cheia a exigir a minha presença... e uma permanente sensação de correria que me incomodou permanentemente. E, algures por entre a correria, um Deus que ressuscita.
Não é fácil gerir Marta e Maria. Se, por um lado, encontro o Ressuscitado justamente naqueles a quem me vou entregando, por outro, a azáfama constante rouba-se o silêncio, a calma e a serenidade e afasta-me do encontro profundo que preciso que aconteça. E não consegui ainda encontrar esse equilíbrio. Algures entre o trabalho no Centro, os ensaios, as celebrações, a visita pascal no compasso, a vida escapa-se-me por entre os dedos. E essa é uma sensação terrível!
Como sempre acontece, recebi este ano algumas mensagens de amigos. Uma delas apenas me questionava: "Que se passa contigo?" Não respondi porque não sabia o que responder. Poucas coisas me chateiam tanto como não saber o que responder. Quando os meus filhos chegavam ao Segundo Ciclo, eu sentava-me com eles e dizia-lhes : "a partir de agora, podes fazer o que quiseres... desde que me saibas explicar porque o fizeste." Detesto o encolher de ombros, o ir na onda, o não se questionar, o não se saber porque se faz o que quer que se faça. Detesto ainda mais quando eu próprio não sou capaz de responder.
Hoje de manhã rapei a barba. Para me recordar do motivo pelo qual acordo, de quem me é verdadeiramente importante, em função de quem quero viver. Para me recordar, efectivamente, que o mais cómodo nunca é o melhor e que eu não sou a medida de coisa nenhuma. Para me recordar que, se deixar correr o marfim, não tardarei a encolher os ombros quando alguém que me é importante me perguntar o que se passa comigo.
Hoje de manhã rapei a barba. Reassumi o comando.
Da imensidão de fotos e textos que foram publicados ao longo destes primeiros dias do Papa Francisco, esta é, claramente, a que mais me diz. Um Papa que se senta numa cadeira no fim da Igreja só pode ser alguém tem a consciência que não ocupa mais um cargo.
Têm sido muitas as pessoas que me têm vindo a perguntar o que penso do Papa Francisco. E eu nunca sei muito bem o que dizer. Por um lado, há a enorme esperança que o critério de adesão à Igreja passe a ser o da fé e do desejo de conversão e não qualquer outro. Acredito numa Igreja onde todas as pessoas de boa vontade encontram um lugar para repousar a cabeça, qualquer que seja a sua circunstância. Esta Papa tem dado bons sinais nesse sentido, mas ainda é cedo para avaliar o que quer que seja. Por outro lado, esses sinais são hoje lidos, analisados e discutidos minuciosamente por todos, em todas as alturas. Nunca como agora um Papa foi submetido ao olhar público, crente e não crente. Não é possível que um olhar de fé queira da Igreja o mesmo que um olhar mais superficial. Esquecemos frequentemente a dimensão do Mistério do Amor, que é sempre incompreensível aos olhos de quem vê de fora. Basta pensarmos como a relação de alguns casais por vezes nos causa estranheza. Quem está de fora guarda cães, lá diz o ditado. Por isso, cedo ou tarde, haverá desagradados com o rumo que a Igreja irá tomar e, tal como escutamos no Evangelho de ontem, às palmas e gritos de Hossanas seguir-se-ão, inevitavelmente, públicas condenações. Não tenho qualquer ilusão acerca disso.
E, francamente, não me parece nada mau que assim aconteça.
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