Hoje não tinha ainda pousado a pasta e um aluno - um amigo! - pediu-me, em tom de brincadeira, para analisar um poema de Fernando Pessoa. Sorri imediatamente a seguir a ter-lhe passado os olhos por cima. Para mim era claro como água, como se me estivesse a ver ao espelho, ou tivesse estado estes anos (precisaria de anos para o fazer!) a tentar por no papel a inquietação que tenho por assídua companhia dia após dia, noite após noite. Disse-lhe que não percebia qual a sua dificuldade mas que o deveria analisar depois dos cinquenta. 

Eu entendo a sua dificuldade. Porque na verdade não anda longe da dificuldade de muitos dos que me rodeiam e que, volta e meia, me olham com a mesma naturalidade e compreensão com que olhariam um elefante vestido de tutu cor de rosa. A maioria das vezes não estou nem aí para tentar explicar o inexplicável e finjo recuar. Como explicaria o insaciável? Como explicaria o interminável? O ilógico, o irracional de ter permanentemente fome quando é suposto sentir-me saciado? Como explicaria esta sede nunca plenamente satisfeita sem arrasar quem me dá a sua vida, todos os dias, para me completar? Como fazer outra coisa quando sei que jamais me sentirei plenamente saciado por mais que alguns - breves - momentos?

Valha-me este e outros pessoas para me desisolar de mim! 

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