20161011
Dizia-lhe, ontem, apenas ontem, como me tinha sentido irremediavelmente só. Não o fiz muitas vezes, ao longo de todos estes anos, não sei se por medo,se por comodidade, se por entender, como ainda entendo, que é uma coisa apenas minha e ninguém tem nada a ver com isso a não ser que eu o queira partilhar. Depois da surpresa - e há sempre surpresa quando lhe digo algo deste género - disse-me que algures entre a minha solidão desejada e a indesejada espera pela minha necessidade de encontro. Que também existe. E disse-me aquela que é a minha maior evidência, que sou muito complicado. Obrigadinho. Já o sabia. Desde sempre!
Naquele primeiro banco da nossa igreja deu-se o click que fez com que a solidão se eclipsasse com a mesma rapidez e naturalidade com que chegara. Nem sei bem o que o padre dissera, sei que me reconstruiu por dentro - "serás restaurador de ruas destruídas" - e me fez encarar o resto do dia de domingo com outro espírito.
Ainda ontem, no seguimento da conversa a caminho de casa, tentei explicar - como o mesmo resultado nulo de sempre - a importância da minha fé, particularmente naquelas alturas. Acredito que é uma fé viva, mas não é uma fé natural, intrínseca, contra tudo e contra todos, como a de algumas pessoas que conheço e admiro. Diria que é uma fé procurada, porventura razão no início do processo e, de certeza, coração no seu desenlace. É uma fé que que procuro, racionalmente, para me tentar balizar, para me tentar encaixar na vida mas, sobretudo, dentro de mim., Em quem eu sou. Diria que é uma fé que encontra maior segurança e certeza na resposta à pergunta de Jesus:"Zé, tu amas-me?" que na pergunta que me fora feita, dias antes: "Zé, tu amas-te?"
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