20161026
Naquela mesa redonda do chinês cumpria-se um sonho. Nós chegamos cedo, prerrogativa de pais, para quem o tempo já se mede de uma outra maneira, diferente, mais lenta, menos absorvente, com os segundos e os minutos a pautarem a vida num outro ritmo, provavelmente menos premente. Eles foram chegando. Aos poucos, Dois a dois. Passado pouco tempo, estávamos todos. Naquela mesa redonda do chinês a algazarra era pouco diferente da de todos os dias lá de casa. O mesmo tom de conversa. as mesmas conversas cruzadas, os mesmos risos, a mesa alegria, a mesma partilha. E eu, ora a participar ativamente, ora a brincar com o tabuleiro giratório daquela mesa redonda do chinês - tenho que arranjar uma coisa destas - ora observando-os, completamente embevecido, imensamente grato. Estão enormes, os meus filhos!
Estamos naquela fase da vida e que a conciliação de horários e disponibilidades é cada vez mais difícil e por isso paira como que uma urgência sempre que estamos juntos. As refeições com todos vão sendo cada vez menos frequentes até serem cada vez mais raras, e mesmo as férias exigem já uma reserva prévia com meses de antecedência. Andamos todos uns para cada canto, em lugares diferentes, em países diferentes, por vezes até em continentes diferentes. Sinal dos tempos de uma miúdos que foram crescendo sob o nosso olhar atento e que agora vão sendo cada vez mais homens e mulheres com voz e vida própria e, Graças a Deus, ativa.
Naquela mesa redonda do chinês, ontem, cumpria-se um sonho, O nosso sonho. O meu sonho. Não me lembro de desejar ser rico (dava jeito!) ou ter casas enormes (não me fazia mal!) ou barcos (um dia destes...!) mas lembro-me sempre de desejar ter filhos, muitos, à volta da mesa, em alegre algazarra. Ontem aconteceu naquela mesa redonda do chinês, No futuro será em qualquer outra mesa. Desde que estejamos todos como ontem, felizes, basta.
Para que se cumpra a minha vida.
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