Sou um criador. De mundos. Alternativos. Alternados. De vidas. Alternativas. Alternadas. Que, no meu imaginário, são muito pouco imaginárias. Têm vida vivida, quotidiana, paralela, e são tão ou mais reais quanto a vida real, aquela que é suposto ser por mim vivida. Em cada uma dessas vidas eu sou um outro que não eu, com sentimentos próprios e alegrias próprias e tristezas próprias e razões próprias e por vezes naturalmente contraditórias em função da vida que é vivida paralelamente a uma qualquer oura vida que eventualmente será vivida num outro momento. Gostaria de poder afirmar, taxativamente, indubitavelmente, que todas essas vidas me têm em comum, como ator principal, numa peça por mim escrita e cujo desenlace é por mim controlado, mas a sensação que tenho a maioria das vezes é justamente a oposta, que eu sou apenas mais um, pequeno, insignificante figurante, que a maior parte do tempo se olha a si mesmo, a partir de um canto, escuro, à espera de me ver, e à minha construção, estatelados ao comprido. E que, uma vez estatelado, se empenha na laboriosa construção de um outro mundo, com uma outra vida, com um outro imaginário apenso à realidade, onde eu possa ser um outro eu. Um melhor eu. Para variar.

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