20161109
Por vezes - sempre dolorosas vezes - descubro-me pródigo em balelas. Por vezes são os meus mais próximos que mo dizem, por vezes carinhosamente, outras de forma ríspida, provavelmente porque mereço bem o que me dizem. Uma das mais pródigas balelas saídas da minha boca tem amar como temática. É que eu normalmente acredito mesmo na imensidão de amar. Amar, não amor. Amar, um ato vivido, sentido, propositado, com destinatário concreto e definido, e não Amor, essa coisa demasiado global indefinida que pode ser tudo e nada. Encho muitas vezes a minha boca - a minha vida - com o Amar, tentando conjugá-lo com verdade, com disponibilidade, com abertura e concessão de espaço. E deixo-me enredar nas minhas próprias palavras, na minha forma muito minha - não são todas as nossas formas muito nossas? - de amar. A tal ponto que às tantas são-me ditas muitas vezes e feitas sentir outras tantas e mais ainda que amar não chega. Que amar é pouco. que amar, mesmo vivido ou tentado na sua plenitude não chega. e que a forma balélica como amo estilhaça. E o meu mundo estilhaça. E a paisagem que me rodeia é já totalmente outra, e o que vejo a seguir nada tem a ver com o que via antes e tenho de refazer uma outra paisagem, interior, feita de estilhaços, tentando descobrir neles um outro sentido, um outro refazer, se possível sem recomeçar, sem baralhar e dar de novo. Ainda que sabendo que construir a partir de estilhaços não é construir. É, quando temos sorte, reconstruir; é, quando não temos sorte, tapar o sol com a peneira, é viver com a aparência de construir, rezando para que não haja momento, pelo menos tão cedo, em que a água entre.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Bambora
Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...
-
Gosto dos Jogos Olímpicos. Desde miúdo que me fascinava a capacidade destes super homens e mulheres capazes de desafiar os limites com uma f...
-
Chegou aqui a pedido institucional. Dez anos, e a vida já num emaranhado de complicações: maus tratos, impedimento judicial de aproximação d...
-
Ainda me espanto! Perante o desafio de pensar num adulto que tenha sido significativo na minha infância e adolescência - no sentido de me te...
Sem comentários:
Enviar um comentário