Por vezes - sempre dolorosas vezes - descubro-me pródigo em balelas. Por vezes são os meus mais próximos que mo dizem, por vezes carinhosamente, outras de forma ríspida, provavelmente porque mereço bem o que me dizem. Uma das mais pródigas balelas saídas da minha boca tem amar como temática. É que eu normalmente acredito mesmo na imensidão de amar. Amar, não amor. Amar, um ato vivido, sentido, propositado, com destinatário concreto e definido, e não Amor, essa coisa demasiado global indefinida que pode ser tudo e nada. Encho muitas vezes a minha boca - a minha vida - com o Amar, tentando conjugá-lo com verdade, com disponibilidade, com abertura e concessão de espaço. E deixo-me enredar nas minhas próprias palavras, na minha forma muito minha  - não são todas as nossas formas muito nossas? - de amar. A tal ponto que às tantas são-me ditas muitas vezes e feitas sentir outras tantas e mais ainda que amar não chega. Que amar é pouco. que amar, mesmo vivido ou tentado na sua plenitude não chega. e que a forma balélica como amo estilhaça. E o meu mundo estilhaça. E a paisagem que me rodeia é já totalmente outra, e o que vejo a seguir nada tem a ver com o que via antes e tenho de refazer uma outra paisagem, interior, feita de estilhaços, tentando descobrir neles um outro sentido, um outro refazer, se possível sem recomeçar, sem baralhar e dar de novo. Ainda que sabendo que construir a partir de estilhaços não é construir. É, quando temos sorte, reconstruir; é, quando não temos sorte, tapar o sol com a peneira, é viver com a aparência de construir, rezando para que não haja momento, pelo menos tão cedo, em que a água entre.

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