Nos vários mundos que me habitam, ora coincidentes ora alternados, ora em rebuliço ora em pacificada coexistência, há um que detesto particularmente, que constitui o meu ódio de estimação, porque odeio essa pessoa que volta e meia também me habita: o ingrato. Tenho dias, ou momentos, ou alturas, em que ando zangado com o mundo e com tudo e todos os que me rodeiam, Uma zanga séria e profunda que me leva a praguejar num constante e abafado silêncio, numa sensação horrível que sou credor do mundo e que todos me devem prestar justíssima vassalagem. Uma zanga alicerçada na mais profunda das incompreensões, de mim para mim, claro, mas sentida e multiplicada como sendo dos outros para mim, onde ninguém me entende, ninguém me dá o devido valor, ninguém se digna sequer de colocar o pedestal, estender a passadeira, instalar o púlpito a partir do qual tudo e todos dão loas pela minha simples existência. São dias, ou momentos, ou alturas, de profunda solidão, de alguma depressão, que me toldam o olhar e me roubam a esperança.

E depois chegas tu, e desmontas-me, em meia dúzia de palavras, em meia dúzia de olhares aparentemente distanciados, em meia dúzia de discretas chamadas à pedra e eu, lentamente, começo a redescobrir-me o cavaleiro da triste figura.

E dou Graças. Apenas por existires na minha vida!

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