Fazer alguém feliz, ser motivo de felicidade - mais que alegria, fugaz, felicidade mesmo, mais interior mas mais profunda e duradoura - é uma tarefa árdua. Pelo menos para mim. Conheço pessoas extremamente felizardas que o conseguem com uma naturalidade tal que parece que lhes basta respirar para que os outros sejam felizes. Pessoas graciosas, leves, elas próprias intrinsecamente felizes ao ponto de irradiarem uma felicidade genuína, quase infantil, naquilo que a infância tem de melhor. Eu não consigo. Não com essa naturalidade. E mesmo quando o consigo é como que arrancada a ferros. Pensada. Construída. Intencional. Com destinatário.

Ironicamente, eu, que gosto tanto do Principezinho, levo muitas vezes nas orelhas por não conseguir assumir a responsabilidade de cuidar devidamente daqueles que cativo. Provavelmente faço com eles o que faço com quase tudo na vida: vivo-os muito intensamente, desligo muito rapidamente. Numa das últimas conversas à volta dessa temática, dei por mim a argumentar que esse desligar se devia a três factores: uma primeira infância com muitas moradas e muitos refazeres de relações; um complexo de último (mais vale ser recordado que me sentir imposto); uma clara tendência para viver num mundo de fantasia onde convivo, na minha cabeça, com todos os ausentes da minha realidade.

Por vezes acredito que as alturas em que consigo levar mais felicidade são aquelas em que me consigo dedicar totalmente a alguém. Pode acontecer numa breve conversa ou uma caminhada de vários dias, ou meses ou até anos. Mas quando acontece eu não estou, apenas. Eu sou. De corpo e alma.

Esse ir sendo com os outros contribui para que eu vá sendo vários, muitos, espalhados, no tempo e no espaço. Onde a falta de consistência vai sendo compensada pela enorme intensidade com que vou sendo. Em cada um. Em cada momento.

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