Conhecemo-nos há alguns anos. Esta, claro, é apenas uma das muitas formas de o dizer. Na verdade, não nos conhecemos. Conhecíamos a mesma pessoa e, por seu intermédio, passamos algum - escasso - tempo juntos. Nunca fomos íntimos, nunca passamos mais que algum tempo juntos e, sempre que o fizemos, havia, pelo menos da minha parte, aquele misto de identificação e desafio intimidante. Intimidam-me sempre as pessoas com personalidade forte, mas no sentido de me fazer correr para elas, como uma mariposa que fica fascinada pela luz, apesar de saber que poderá muito bem ser o seu fim, Os amorfos nunca me disseram nada, absolutamente nada, como se eu precisasse da vertigem do abismo - ainda que por interposta vida - para me sentir vivo. Sendo do sexo masculino então, sinto uma espécie de desafio nunca claramente assumido, devidamente acompanhado pela voz do speaker de um combate de boxe "de um lado....
Vamos começando a conhecer-nos agora, alguns anos depois. O mesmo fascínio por mim sentido, a mesma intimidação, devidamente certificada, agora pelo "poderia muito bem ser eu." Vou registando a distância que nos separa, fruto das vicissitudes da vida de cada um. Ao lado do seu tumulto constante eu pareço até uma pessoa serena, pacificada, mentalmente arrumada, o que desmente tudo aquilo que sinto cá por dentro quase todos os dias. Os meus trambolhões interiores parecem-me pequenas quedas insignificantes sempre que conversamos. À admiração de si (como é possível resistir a tanta pancada da vida?) alia-se agora, impercetivelmente, um sentimento de gratidão. Por não ter tido que passar pelo mesmo - com consequências certamente devastadoras para mim - mas, sobretudo, pela oportunidade de poder aprender com quem andou pelos fundos e não se deixou ficar por lá.
Pelo menos aparentemente.

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