Frequentemente, digo que sou muito olhos. Sou-o, efetivamente. Desde sempre! Numa pessoa, qualquer que seja a sua idade, a primeira coisa que me salta à vista é o seu olhar. Não a cor dos olhos, que essa me passa completamente ao lado e será mais tarde atribuída por mim em função do que me diz, mas o mundo que revela, à superfície ou na profundidade. Quando era mais novo era fortemente gozado por causa disso. Para começar, porque olhava com a mesma atenção, curiosidade e gozo os olhos de quem quer que fosse, independentemente do seu género ou idade. E isso, para os outros, era muito esquisito! Depois, porque raramente reparava em quaisquer outros atributos físicos, muito mais em voga na altura, mas que me passavam completamente despercebidos. Ainda hoje, o critério mais importante continua a ser o olhar. É-me muito difícil gostar de alguém cujo olhar não me diz coisa nenhuma. Para que isso aconteça tenho que apelar a uma série de racionalidades que me levem mais longe que a minha perceção inicial mas, mesmo que, mesmo quando chego a gostar, gosto apesar do olhar, e instintivamente me impedem de me entregar sem reservas, como acontece com aqueles em cujo olhar confio.
Claro que já me correu mal, claro que há olhares que me inspiraram uma confiança nunca confirmada pela realidade, claro que há outros dos quais desconfiei e se revelaram pessoas extraordinárias. Mas é daquelas coisas. Como muitas na minha vida.

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