Na semana passada, conversava com um dos meus filhos acerca de carros. Nós somos assim: conversamos de tudo e de nada, de fé e política, de convicções e diversões, de filmes e cartoons, de carros e jogos, de testes e filosofia... não temos uma cartilha de conversas importantes e secundárias, todos os motivos, todas as horas, todos os momentos, são bons para aprendermos juntos. Mas naquela altura era de carros que falávamos. Adolescente como é, cheio de "velocidade furiosa" na cabeça, contava-me o seu fascínio por eleanors, e mustangs e outros que tais. Eu contrapunha com classes E e series 5 e ele dizia-me  - como me dizem todos eles - que eu estava a ficar velhote.

É verdade! Mas não é apenas isso.

As minhas benditas caminhadas matinais junto ao mar têm feito o seu caminho cá por dentro. Têm sido uma oportunidade para reeducar os sentidos. Logo que desço da avenida para junto ao mar o som muda com uma rapidez impressionante e fico apenas com o som das ondas, das gaivotas e do vento - o coaxar das rãs só lá para a primavera - vou-me apercebendo das subtis mudanças da paisagem, a progressiva descoloração dos arbustos, o lavar do mar pelo aumento de agressividade das ondas, até da mudança nas pessoas que passam por mim consigo reparar! É todo um mundo novo que eu andava a perder e que, lentamente, naquela hora matinal, vou tentando recuperar. E como gosto de o fazer!

Tenho uma visão recorrente de há muitos anos. Na verdade, não sei bem se é uma visão ou um sonho ou uma cena qualquer de um filme ou de um livro que acabou por ficar gravada na minha memória. Mas sei que aquela paisagem agreste à beira mar, elevada, com uma casa térrea no meio do nada e eu, devidamente acompanhado, fazem parte do meu imaginário de futuro, do meu projecto de futuro, se quiserem. E sobretudo, serenidade. Muita serenidade. Os meus livros que há décadas guardo para ler na velhice, a boa música jazz, clássica, folk... a minha guitarra. De tudo isso, apenas me falta o lugar... e a serenidade. Mas desta estou já a tratar. O lugar, a seu tempo, chegará.

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