20161031


Hoje não tinha ainda pousado a pasta e um aluno - um amigo! - pediu-me, em tom de brincadeira, para analisar um poema de Fernando Pessoa. Sorri imediatamente a seguir a ter-lhe passado os olhos por cima. Para mim era claro como água, como se me estivesse a ver ao espelho, ou tivesse estado estes anos (precisaria de anos para o fazer!) a tentar por no papel a inquietação que tenho por assídua companhia dia após dia, noite após noite. Disse-lhe que não percebia qual a sua dificuldade mas que o deveria analisar depois dos cinquenta. 

Eu entendo a sua dificuldade. Porque na verdade não anda longe da dificuldade de muitos dos que me rodeiam e que, volta e meia, me olham com a mesma naturalidade e compreensão com que olhariam um elefante vestido de tutu cor de rosa. A maioria das vezes não estou nem aí para tentar explicar o inexplicável e finjo recuar. Como explicaria o insaciável? Como explicaria o interminável? O ilógico, o irracional de ter permanentemente fome quando é suposto sentir-me saciado? Como explicaria esta sede nunca plenamente satisfeita sem arrasar quem me dá a sua vida, todos os dias, para me completar? Como fazer outra coisa quando sei que jamais me sentirei plenamente saciado por mais que alguns - breves - momentos?

Valha-me este e outros pessoas para me desisolar de mim! 

20161027


Eu penso na morte. Na minha morte. No que quero que façam ao meu corpo, não que considere o meu corpo algo de muito importante mas sobretudo porque considero a memória algo de muito importante. Não tenho o culto dos mortos. Não tenho o hábito de ir ao cemitério visitar aqueles que amei e que já lá estão, Não sinto essa necessidade. Recordo-os muitas vezes nas mais diversas situações, rezo-lhes algumas (não por eles, que estão junto do Pai, mas a eles, que estão junto do Pai) porque acredito que possuem agora a clarividência que nunca temos por aqui e porque acredito que me amam e ma poderão, de alguma forma, transmitir. Dificilmente o faria num cemitério que, por muito que me digam o contrário, é um lugar de mortos. E de morte.
Fiquei apreensivo esta semana ao ler a Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé. Não, eu não sou o tipo de católico que segue à risca as orientações da Igreja; Sim, eu sou o tipo de católico que está atento ao que a Igreja proclama e defende. E para mim é importante o que a Igreja proclama e defende. Mas não é absoluto. O que faço, normalmente, é ler, estudar, refletir, comparar com a minha vida e aquilo em que acredito - muito do qual a partir do evangelho - e depois, assumir como meu aquilo que é verdadeiramente meu. Foi o que eu fiz coma  Instrução. É o que tenho andado a fazer com a Instrução. Porque há muitos anos que quero ser cremado. Porque há alguns anos quero que as minhas cinzas sejam espalhadas pelos dois lugares aos quais pertenço: a minha cidade, o Porto; e Taizé. E esta Instrução veio agora trocar-me as voltas.

20161026


Naquela mesa redonda do chinês cumpria-se um sonho. Nós chegamos cedo, prerrogativa de pais, para quem o tempo já se mede de uma outra maneira, diferente, mais lenta, menos absorvente, com os segundos e os minutos a pautarem a vida num outro ritmo, provavelmente menos premente. Eles foram chegando. Aos poucos, Dois a dois. Passado pouco tempo, estávamos todos. Naquela mesa redonda do chinês a algazarra era pouco diferente da de todos os dias lá de casa. O mesmo tom de conversa. as mesmas conversas cruzadas, os mesmos risos, a mesa alegria, a mesma partilha. E eu, ora a participar ativamente, ora a brincar com o tabuleiro giratório daquela mesa redonda do chinês - tenho que arranjar uma coisa destas - ora observando-os, completamente embevecido, imensamente grato. Estão enormes, os meus filhos!

Estamos naquela fase da vida e que a conciliação de horários e disponibilidades é cada vez mais difícil e por isso paira como que uma urgência sempre que estamos juntos. As refeições com todos vão sendo cada vez menos frequentes até serem cada vez mais raras, e mesmo as férias exigem já uma reserva prévia com meses de antecedência. Andamos todos uns para cada canto, em lugares diferentes, em países diferentes, por vezes até em continentes diferentes. Sinal dos tempos de uma miúdos que foram crescendo sob o nosso olhar atento e que agora vão sendo cada vez mais homens e mulheres com voz e vida própria e, Graças a Deus, ativa.

Naquela mesa redonda do chinês, ontem, cumpria-se um sonho, O nosso sonho. O meu sonho. Não me lembro de desejar ser rico (dava jeito!) ou ter casas enormes (não me fazia mal!) ou barcos (um dia destes...!) mas lembro-me sempre de desejar ter filhos, muitos, à volta da mesa, em alegre algazarra. Ontem aconteceu naquela mesa redonda do chinês, No futuro será em qualquer outra mesa. Desde que estejamos todos como ontem, felizes, basta.

Para que se cumpra a minha vida.

20161025


Conhecemo-nos há alguns anos. Esta, claro, é apenas uma das muitas formas de o dizer. Na verdade, não nos conhecemos. Conhecíamos a mesma pessoa e, por seu intermédio, passamos algum - escasso - tempo juntos. Nunca fomos íntimos, nunca passamos mais que algum tempo juntos e, sempre que o fizemos, havia, pelo menos da minha parte, aquele misto de identificação e desafio intimidante. Intimidam-me sempre as pessoas com personalidade forte, mas no sentido de me fazer correr para elas, como uma mariposa que fica fascinada pela luz, apesar de saber que poderá muito bem ser o seu fim, Os amorfos nunca me disseram nada, absolutamente nada, como se eu precisasse da vertigem do abismo - ainda que por interposta vida - para me sentir vivo. Sendo do sexo masculino então, sinto uma espécie de desafio nunca claramente assumido, devidamente acompanhado pela voz do speaker de um combate de boxe "de um lado....
Vamos começando a conhecer-nos agora, alguns anos depois. O mesmo fascínio por mim sentido, a mesma intimidação, devidamente certificada, agora pelo "poderia muito bem ser eu." Vou registando a distância que nos separa, fruto das vicissitudes da vida de cada um. Ao lado do seu tumulto constante eu pareço até uma pessoa serena, pacificada, mentalmente arrumada, o que desmente tudo aquilo que sinto cá por dentro quase todos os dias. Os meus trambolhões interiores parecem-me pequenas quedas insignificantes sempre que conversamos. À admiração de si (como é possível resistir a tanta pancada da vida?) alia-se agora, impercetivelmente, um sentimento de gratidão. Por não ter tido que passar pelo mesmo - com consequências certamente devastadoras para mim - mas, sobretudo, pela oportunidade de poder aprender com quem andou pelos fundos e não se deixou ficar por lá.
Pelo menos aparentemente.

20161024


Frequentemente, digo que sou muito olhos. Sou-o, efetivamente. Desde sempre! Numa pessoa, qualquer que seja a sua idade, a primeira coisa que me salta à vista é o seu olhar. Não a cor dos olhos, que essa me passa completamente ao lado e será mais tarde atribuída por mim em função do que me diz, mas o mundo que revela, à superfície ou na profundidade. Quando era mais novo era fortemente gozado por causa disso. Para começar, porque olhava com a mesma atenção, curiosidade e gozo os olhos de quem quer que fosse, independentemente do seu género ou idade. E isso, para os outros, era muito esquisito! Depois, porque raramente reparava em quaisquer outros atributos físicos, muito mais em voga na altura, mas que me passavam completamente despercebidos. Ainda hoje, o critério mais importante continua a ser o olhar. É-me muito difícil gostar de alguém cujo olhar não me diz coisa nenhuma. Para que isso aconteça tenho que apelar a uma série de racionalidades que me levem mais longe que a minha perceção inicial mas, mesmo que, mesmo quando chego a gostar, gosto apesar do olhar, e instintivamente me impedem de me entregar sem reservas, como acontece com aqueles em cujo olhar confio.
Claro que já me correu mal, claro que há olhares que me inspiraram uma confiança nunca confirmada pela realidade, claro que há outros dos quais desconfiei e se revelaram pessoas extraordinárias. Mas é daquelas coisas. Como muitas na minha vida.

20161023




Fazer alguém feliz, ser motivo de felicidade - mais que alegria, fugaz, felicidade mesmo, mais interior mas mais profunda e duradoura - é uma tarefa árdua. Pelo menos para mim. Conheço pessoas extremamente felizardas que o conseguem com uma naturalidade tal que parece que lhes basta respirar para que os outros sejam felizes. Pessoas graciosas, leves, elas próprias intrinsecamente felizes ao ponto de irradiarem uma felicidade genuína, quase infantil, naquilo que a infância tem de melhor. Eu não consigo. Não com essa naturalidade. E mesmo quando o consigo é como que arrancada a ferros. Pensada. Construída. Intencional. Com destinatário.

Ironicamente, eu, que gosto tanto do Principezinho, levo muitas vezes nas orelhas por não conseguir assumir a responsabilidade de cuidar devidamente daqueles que cativo. Provavelmente faço com eles o que faço com quase tudo na vida: vivo-os muito intensamente, desligo muito rapidamente. Numa das últimas conversas à volta dessa temática, dei por mim a argumentar que esse desligar se devia a três factores: uma primeira infância com muitas moradas e muitos refazeres de relações; um complexo de último (mais vale ser recordado que me sentir imposto); uma clara tendência para viver num mundo de fantasia onde convivo, na minha cabeça, com todos os ausentes da minha realidade.

Por vezes acredito que as alturas em que consigo levar mais felicidade são aquelas em que me consigo dedicar totalmente a alguém. Pode acontecer numa breve conversa ou uma caminhada de vários dias, ou meses ou até anos. Mas quando acontece eu não estou, apenas. Eu sou. De corpo e alma.

Esse ir sendo com os outros contribui para que eu vá sendo vários, muitos, espalhados, no tempo e no espaço. Onde a falta de consistência vai sendo compensada pela enorme intensidade com que vou sendo. Em cada um. Em cada momento.

20161020


Nos vários mundos que me habitam, ora coincidentes ora alternados, ora em rebuliço ora em pacificada coexistência, há um que detesto particularmente, que constitui o meu ódio de estimação, porque odeio essa pessoa que volta e meia também me habita: o ingrato. Tenho dias, ou momentos, ou alturas, em que ando zangado com o mundo e com tudo e todos os que me rodeiam, Uma zanga séria e profunda que me leva a praguejar num constante e abafado silêncio, numa sensação horrível que sou credor do mundo e que todos me devem prestar justíssima vassalagem. Uma zanga alicerçada na mais profunda das incompreensões, de mim para mim, claro, mas sentida e multiplicada como sendo dos outros para mim, onde ninguém me entende, ninguém me dá o devido valor, ninguém se digna sequer de colocar o pedestal, estender a passadeira, instalar o púlpito a partir do qual tudo e todos dão loas pela minha simples existência. São dias, ou momentos, ou alturas, de profunda solidão, de alguma depressão, que me toldam o olhar e me roubam a esperança.

E depois chegas tu, e desmontas-me, em meia dúzia de palavras, em meia dúzia de olhares aparentemente distanciados, em meia dúzia de discretas chamadas à pedra e eu, lentamente, começo a redescobrir-me o cavaleiro da triste figura.

E dou Graças. Apenas por existires na minha vida!

20161018





Há muitos anos deram-me um livro do Paulo Coelho como indireta. As nossas muitas conversas e partilhas desembocavam sempre na posse. Ou melhor, na minha clara pulsão para de alguma forma controlar aqueles que amo. Quem mo ofereceu não duvidava do meu amor, da minha capacidade de amar mas, pelo contrário, da forma total e totalizante com que o fazia, dizendo-me algumas vezes que corria o risco de asfixiar. Naturalmente, como sempre me acontece com os que me amam verdadeira e, sobretudo, desprendidamente, cocacolizei aquela evidente idiotice, estranhando-a antes e entranhando-a depois de pensar nela com calma. E com alma. O que é certo é que aquele livro e aquelas conversas e aquelas idiotices evidentes transformaram a minha forma de amar.
Os meus filhos que o digam!

Hoje acordei muito tentado a fazer uma pesquisa numa qualquer rede social. Seja pelas conversas que tenho noite dentro, seja pelos sonhos que tenho noite fora, seja pela vida que me pulsa a cada momento, o que é certo é que tenho tido por companhia uma questão daquelas que, sendo simples, podem ser traiçoeiras.
Afinal, amar serve para quê?

20161013


Sou um criador. De mundos. Alternativos. Alternados. De vidas. Alternativas. Alternadas. Que, no meu imaginário, são muito pouco imaginárias. Têm vida vivida, quotidiana, paralela, e são tão ou mais reais quanto a vida real, aquela que é suposto ser por mim vivida. Em cada uma dessas vidas eu sou um outro que não eu, com sentimentos próprios e alegrias próprias e tristezas próprias e razões próprias e por vezes naturalmente contraditórias em função da vida que é vivida paralelamente a uma qualquer oura vida que eventualmente será vivida num outro momento. Gostaria de poder afirmar, taxativamente, indubitavelmente, que todas essas vidas me têm em comum, como ator principal, numa peça por mim escrita e cujo desenlace é por mim controlado, mas a sensação que tenho a maioria das vezes é justamente a oposta, que eu sou apenas mais um, pequeno, insignificante figurante, que a maior parte do tempo se olha a si mesmo, a partir de um canto, escuro, à espera de me ver, e à minha construção, estatelados ao comprido. E que, uma vez estatelado, se empenha na laboriosa construção de um outro mundo, com uma outra vida, com um outro imaginário apenso à realidade, onde eu possa ser um outro eu. Um melhor eu. Para variar.

20161011



Dizia-lhe, ontem, apenas ontem, como me tinha sentido irremediavelmente só. Não o fiz muitas vezes, ao longo de todos estes anos, não sei se por medo,se por comodidade, se por entender, como ainda entendo, que é uma coisa apenas minha e ninguém tem nada a ver com isso a não ser que eu o queira partilhar. Depois da surpresa - e há sempre surpresa quando lhe digo algo deste género - disse-me que algures entre a minha solidão desejada e a indesejada espera pela minha necessidade de encontro. Que também existe. E disse-me aquela que é a minha maior evidência, que sou muito complicado. Obrigadinho. Já o sabia. Desde sempre!

Naquele primeiro banco da nossa igreja deu-se o click que fez com que a solidão se eclipsasse com a mesma rapidez e naturalidade com que chegara. Nem sei bem o que o padre dissera, sei que me reconstruiu por dentro - "serás restaurador de ruas destruídas" - e me fez encarar o resto do dia de domingo com outro espírito.

Ainda ontem, no seguimento da conversa a caminho de casa, tentei explicar - como o mesmo resultado nulo de sempre - a importância da minha fé, particularmente naquelas alturas. Acredito que é uma fé viva, mas não é uma fé natural, intrínseca, contra tudo e  contra todos, como a de algumas pessoas que conheço e admiro. Diria que é uma fé procurada, porventura razão no início do processo e, de certeza, coração no seu desenlace. É uma fé que que procuro, racionalmente, para me tentar balizar, para me tentar encaixar na vida mas, sobretudo, dentro de mim., Em quem eu sou. Diria que é uma fé que encontra maior segurança e certeza na resposta à pergunta de Jesus:"Zé, tu amas-me?" que na pergunta que me fora feita, dias antes: "Zé, tu amas-te?"

20161007


Hoje quase almoçava sozinho. Não consegui. Quando estou assim, quando não me recomendo, uma amiga gosta de me provocar e pergunta-me se estou no meu momento autista. Sorrio. Sorrio apenas. Nestes dias a última coisa que me apetece é estar a justificar o que quer que seja. Nestes dias tenho a sensação que lambo feridas. E só me apetecia estar assim, num qualquer canto escuro, só completamente só, deliciosamente só, até que a tristeza passe.

Nem sempre há um motivo palpável para esta tristeza. É um misto de sensação de perda com necessidade premente de recolhimento. Que acontece quando sinto que estou a perder (me?) ou naquele momento de distensão que acontece logo a seguir a uma tarefa que exigiu muito de mim. Ou as duas coisas, que andam muitas vezes de mãos dadas. Como se a respiração tivesse estado sustida uns dias e precisasse agora de encher de novo os pulmões. Quando estou assim, quando não me recomendo e me refugio, uma amiga gosta de me provocar e diz-e que eu gosto é de ser resgatado. Talvez. Não faço a mínima ideia. E hoje não me apetece nada estar a pensar nisso. Apetece-e apenas e só ficar assim. Só. Completamente só. Deliciosamente só. A lamber feridas até que esta tristeza passe.

20161005



"O suicídio é sempre um assassínio de um outro." Impressionou-me, esta frase. Muito! Talvez porque ao longo da minha vida me tenha deparado com vários suicídios, uns levados a cabo com sucesso, outros fracassados - sintomático, quando o sucesso de algo leva à morte e o seu fracasso conduz à vida! - de pessoas que me eram queridas. À tremenda surpresa do acontecimento sucedia-se sempre a tremenda culpa de não ter estado presente quando era mais necessário. Não importa para o caso se vivia longe, se não tinha a mínima hipótese de saber, se ninguém o suspeitava ou se andava distraído. Importa sim que eu não estava lá. Qualquer que tivesse sido o motivo, eu não estava lá. Para poder conversar, para poder olhar nos olhos, para poder estender a mão e dizer que nada é tão mau que justifique tamanha decisão.

Durante alguns meses não consegui encarar o seu irmão. A notícia da morte atingira-me com uma violência que até então eu desconhecia, ao ponto de quase correr para poder estar junto do seu corpo, apesar do seu corpo ser já apenas um corpo, vazio de vida, abandonado pela vida a que ele próprio havia posto um fim. Alguns anos antes ajudáramos, juntos, o seu irmão a aprender a tocar os primeiros acordes numa guitarra. Nessa altura passávamos imenso tempo juntos, a tocar e a cantar, a descobrir novas músicas num tempo em que não existia ainda a internet, e a descobrir novas vozes que ficassem bem. Depois veio a vida, a minha e a dele, e tudo pouco passava de um cumprimento de vez em quando, e a notícia da sua morte me atingiu em cheio. Uns meses depois, o seu irmão apareceu em minha casa. De surpresa. Para minha surpresa. Aquela culpa de não ter estado presente continuava bem viva e, pensava eu, era mutuamente sentida. Com aquela conversa libertei-me de uma boa parte dessa culpa. A restante permanece, juntamente com tantas outras!

20161003



Ao vê-los, no campo, a dirigir com mestria a partilha dos grupos dos ainda mais miúdos que eles próprios, senti um imenso orgulho. A minha ganapada está a crescer e a preparar-se para outros voos. Mais altos. Mais exigentes. Talvez vá sendo tempo de, lentamente, progressivamente, ir eu voando a um ritmo paulatinamente mais baixo. Até porque o corpo já começa a dar sinais claros de dificuldade em acompanhar ritmos.

Quando acompanhei o RH+ (que saudades do RH+!) deparei-me com um problema que, já na altura, não era novo para mim. A minha intenção sempre tivera sido a de lhes dar asas, de lhes dar ferramentas para a vida de adultos que se avizinhava. Quando quis soltá-los, suavemente, percebi que continuavam dependentes, demasiado dependentes para o meu gosto, demasiado colados a mim para o que precisavam, e acabei por largá-los repentinamente. E dolorosamente. Para eles. E para mim. Prometi-me na altura ficar mais atento para que não voltasse a acontecer.

Recordo com particular satisfação uma oração do 24 Minutos ComTigo do ano passado na qual não pude participar logo desde o início e que, quando cheguei lá, corria às mil maravilhas. Lembro-me de me emocionar, sentado ao fundo da capela, a vê-los a tocar e a rezar. Durante este fim de semana senti algo de semelhante ao vê-los a coordenar os pequenos grupos de tal forma que nem sequer foram necessários os adultos para os vigiar nas ruas de Fátima.

Algumas das brincadeiras com os meus filhos homens eram particularmente exigentes a nível físico. E eu, que nunca deixei os meus filhos ganhar em nada apenas porque eram meus filhos, ia-me apercebendo do imenso gozo que eles tinham de cada vez que me conseguiam ganhar ao que quer que seja, um gozo apenas comparável ao imenso baile que me davam nos dias seguintes a dizerem-me que estava velho.

Se eles soubessem como a maior vitória de qualquer ai é ser ultrapassado pelos seus filhos!

Bambora

  Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...