"Se algum dia ouvir aquilo que o L ouviu, ninguém me volta a por a vista em cima." Disse-o a três pessoas. Apenas. As que interessava. Por motivos distintos. Completamente distintos. Porque são pessoas diferentes. Completamente diferentes. Porque, juntas, abarcam toda a vida. Todas as dimensões da vida. E assim já sabem o que não procurar. Onde não procurar.

"O senhor que não olhava para ninguém, olhava para o vazio." Li agora mesmo. Do António Lobo Antunes, na Visão. É isto, é justamente isto, o que não quero. Ele consegue ver uma coragem que eu não consigo, que eu não quero, que eu me nego ver. Prefiro outra. Prefiro gastar a minha vida ou, nessa altura, o que restar dela, numa qualquer terra de África ou da Ásia ou da Europa, ou de qualquer parte do mundo a torná-la verdadeiramente significativa para alguém. Assim, mato dois coelhos de uma cajadada: deixo-me gastar de forma digna (porventura resgatando-me a mim próprio) e evito os olhares piedosos dos que amo.

Disse que não sei o que é estar sozinho. É verdade. É, pelo menos, uma meia verdade. Não sei o que é viver sozinho, sem sonhos partilhados, sem futuros projetados, sem perspetivas a dois... ou a sete. Pelo menos! Não sei o que é decidir sem ponderar outros - ainda que pondere contra o que porventura desejariam - sem ter em linha de conta as suas próprias expectativas em relação a mim. Não sei o que é isso por que já o remeti para outras núpcias. Mas há sempre algo que sou que, por mais que o tempo passe, por mais que a vida molde, permanece. Sempre! Uma solidão intrínseca, profundíssima, quase sempre adormecida, que espreita nas menores oportunidades e é prontamente rechaçada pelos que me rodeiam. Mas que, acredito, se instalará de armas e bagagens em alguma altura da minha vida. Que venha longe!


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