Acredito que há amor que me ultrapassa. Acredito que todo o amor me ultrapassa. Ou então não é amor. Pode ser arrebatamento, ou paixão, ou obsessão desenfreada que nos tolhe os movimentos e o pensamento por alguns, breves, momentos - o que é um momento no espaço de uma vida? - e depois passa, eclipsa-se, acaba, como acaba o sol no final de cada dia, por muito quente que esse dia tenha sido. Mas não volta. Não permanece. Não fica, apesar de tudo, apesar de toda a racionalidade, apesar de todo o bom senso, ou mau senso, ou qualquer senso. O amor ultrapassa. Todo o senso. Mesmo o contrassenso. Aliás, estou convencido que todo o amor é contrassenso. Não faz sentido. Faz sentir, o que é absolutamente diferente. Para melhor! No amor não pesamos os prós e contras, como numa tabela de cálculo. Porque não há cálculo. Ou então, é um amor calculista. E já não é amor. Não sendo cálculo, terá que ser, assumidamente, risco. Não de engenheiro - não é cálculo - ou de arquiteto - nem sempre é bonito de se ver - mas de criança, mais sarrabisco que risco, muitas vezes tosco, muitas vezes às voltinhas, incontrolável, conduzido por causas superiores, que nem se sabe bem quem são e muito menos ao que vêm. Eu gosto da forma de amar das crianças. De cabeça. Sem comos ou porquês, descomplicadores ligados, vivendo o amor a toda a brida.

Não sou criança, eu sei. Mas, ainda assim, acredito que o amor me ultrapassa. Só assim o sei viver. Só assim o merecerei viver. Só assim continuarei na firme mas deliciosa ilusão que, apesar de tudo, jamais caminharei só.

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