"Está uma manhã fria e feia", escrevi. "Como eu", pensei sem o escrever. Estava, de facto. estávamos, ambos, eu e a manhã, frios e feios, sem qualquer réstia de sol que aquecesse. E o fim de semana até foi bom, tive o Juramento de Hipócrates da minha filha - que estava felicíssima! - deu para descansar e recuperar forças, deu para escrever algumas coisas, preparar outras, mas...

Há uma cena no "vamos dançar" em que o protagonista confessa a sua vergonha por sentir que lhe falta algo, apesar de ter tudo o que sempre sonhou. Como eu o percebo! Tenho dias em que o sol não me aquenta, em que me deixo ir abaixo, em que a acutilância desta sensação de perda me incomoda verdadeiramente. A ponto de moldar o meu dia. São dias em que me sinto uma sombra, em que pareço uma sombra, em que procuro a sombra, em que quero caminhar na sombra do corredor, e onde cada "biba" ou "bom dia" me soa a descabido. Em que o que mais me apetece - e já o fiz hoje - é pegar na guitarra, sentar-me ao fundo da capela, e deixar-me perder nela, nas suas cordas, nas memórias que elas me trazem, no recuo que elas me fazem sentir.

Hoje, daqui a pouco, tenho 24 Minutos ComTigo. Que vem mesmo a calhar com os eu recolhimento, os seus cânticos calmos e acolhedores, com o olhar a pousar nos miúdos à minha volta e a dar Graças por isso, com os amigos à minha volta e a dar Graças por isso. Depois irei ver o Jorge - que se lixe tudo o resto! Já vai sendo tempo de o ver, de o encarar, ainda que isso exija de mim a realidade de o encontrar estendido numa cama de hospital.

E que se lixe tudo o resto!

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