Acho sempre espantosa a volatilidade do meu olhar. Acredito algumas vezes que o que vejo é o que vejo e que as coisas são como as vejo. Que o azul é azul e o vermelho vermelho, que o belo que vejo apenas pode ser belo e toda a vida foi belo, que nada nem ninguém pode adulterar algo para mim tão evidente - naquele momento - como aquilo que vejo. E então ajo em conformidade, alicerçado na perceção evidente do meu mundo, que me é trazido pela clarividência do meu olhar.

Perguntaram-me ontem se eu estava com uma depressão. Talvez. Não sei. Não é questão que me tenham colocado antes. Não é questão que eu próprio me tenha colocado antes. Não é questão que me queira colocar agora. Tem sido uma semana difícil, só isso. Em termos emotivos, não apenas em acontecimentos. O coração tem batido demasiado perto da cabeça, com a natural confusão que daí advém, revelando, num impulso, emoções quando racionalidade é pedida.

Esta semana fui caminhar. Todas as manhãs de trabalho. Quase todas, manhãs geladas, cheias de sol, frias e feias. Quase todas as manhãs, gelado, cheio de sombras, frio e feio. A paisagem que ontem me serenava hoje inquieta-me, o silêncio que ontem me sussurrava hoje grita-me, as emoções que ontem me garantiam a certeza do caminho hoje atabalhoam-se.

As pouco habituais manhãs de sol quando esperamos chuva sabem bem mas deixam-me preocupado. Não acredito que a vida possa ser sempre sol nem que possamos escolher o tempo que faz. Ás vezes há sol, outras a chuva, e eu gosto de ambos, que alternadamente apelam à vida lá fora e ao recolhimento, num equilíbrio que me é tão desejado quanto precioso!

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