Para muitas pessoas que me conhecem, tenho um terrível defeito: sou um péssimo pagador de promessas. E, mesmo para mim, é um bocadinho difícil entender porquê. Nesta altura, convém referir que não prometo apenas quando estou atrapalhado. Nem prometo apenas em voz alta. Nem prometo apenas aos outros. Ou até especialmente aos outros. Antes de mais, para que a promessa tenha alguma hipótese de concretização, começo por me prometer a mim mesmo. Algo assim do tipo "não voltarei a ligar" ou então "não imporei mais a minha presença" e por vezes até "vou fazer de conta que não existe". Tudo coisas bastante simples de prometer, que quase sempre dependem única e exclusivamente de mim, e que quase sempre beneficia outros para além de mim próprio. E, fundamentalmente, tudo promessas que quando prometidas fazem todo o sentido na minha cabeça. Repare-se que não prometo nada que à partida não posso cumprir, nem mundos e fundos, nem coisas que escapam ao meu alcance. Nada disso! Coisas simples e pequenas que devagar se vai ao longe.
Pois.
O pior é que nem devagar nem longe.
Acontece que o requisito fundamental não reside no facto de ter prometido mas de fazer ou não sentido. E há coisas que fazem todo o sentido numa determinada altura e não fazem sentido nenhum noutra. E estas eu tenho muita dificuldade em cumprir. Sim, eu sei. Já mo disseram muitas vezes. Já me chamaram a atenção imensas vezes. Até já me insultaram dizendo que assim não sabem com o que podem contar. Pois... Paciência! Se alguma coisa deixa de fazer sentido porque raio hei de eu ficar atado a algo que me faz sentir um palerma? Sempre que possível tento averiguar se essa falta de sentido por mim detetada não será antes uma maneira cómoda de evitar cumprir o que ficou prometido. E por vezes é. E nesses casos, apesar de não fazer sentido na minha cabeça, não tenho outro remédio senão impor-me o cumprimento do prometido. Mas nos restantes...

Esta minha forma de pensar e agir sempre causou um profundo desgosto no meu sogro. Ele sempre pensou que eu não era recomendável, muito por causa disto. Ele era justamente o oposto: uma vez a palavra dada, ia até ao fim. Custasse o que custasse. Prejudicasse ou não. Fizesse sentido ou não. Palavra era palavra. Ponto final. Tempos houve em que tentei com muita força ser como ele. Lamentei muito tempo por não o conseguir. E depois deixei de o querer. Talvez porque tenha encontrado uma outra forma de fazer sentido. A minha forma de fazer sentido. Que é muito menos prometer e muito mais lidar com o que a vida vai colocando nas minhas mãos. Que é muito menos planear e muito mais usufruir. Que, ao fim e ao cabo, é mito menos razão e muito mais coração. E confiança, já agora.

Comentários

Mensagens populares deste blogue