Enquanto peregrinávamos rumo a Fátima, dois acontecimentos antagónicos, ironicamente próximos do Dia da Mãe: um príncipe nascia e uma criança, de uma mãe criança, era impedida de nascer. Sinais de um mundo repleto de contraditório.

Sou radicalmente contra o aborto. Qualquer que seja a condição, qualquer que seja a circunstância, qualquer que seja a história, o aborto é sempre um exercício de abuso do poder sobre quem nem sequer é dada a hipótese de existir para que se possa defender. Todos os argumentos a favor são absurdos porque partem de alguém que tem um privilégio que quer roubar ao outro: viver. Confesso que é, indubitavelmente, o assunto acerca do qual nem vale a pena discutir comigo. Para mim, nem há discussão porque, a discutir, seria sempre com aquele que é impedido de nascer. E confesso ainda outra coisa: há em mim, inevitavelmente, um sentimento de culpa, sempre que sei que alguém aborta.

Dito isto, não estou nada interessado em processos inquisitórios, públicos ou privados, sobre quem, consciente ou inconscientemente, toma a decisão de abortar. Na minha opinião - e agora trata-se da minha opinião, discutível, por isso - praticado o aborto, importa recuperar a mãe - sim, é mãe - importa criar as condições para que a mãe não volte a sentir essa necessidade, qualquer que tenha sido o motivo. Importa conversar, antes de mais, e tentar fazer descobrir o valor da vida. Importa criar condições materiais, físicas, para que o bebé possa nascer, nem que seja para o entregar a uma família que o acolherá com toda a esperança, com todo o amor. Importa fazer tudo o que for necessário para que aquela criança possa conhecer o dom da vida. E importa também fazer tudo o que for possível para que aquela mãe não fique indelevelmente marcada, nem por si, nem pelos outros.

Dir-me-ão que quero sol na eira e chuva no nabal. Talvez. Mas é de vida que falamos. E quando falamos de vida - a da mãe e a do bebé - vale sonhar tudo. E lutar para que aconteça. A vida, claro!

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