20150519
Na semana passada não consegui caminhar, Nenhuma manhã. Fosse por causa do tempo, fosse por causa do trabalho, fosse porque fosse, não consegui começar nenhuma manhã como gosto. Hoje, finalmente, consegui-o. E tinha feito já mais de metade do percurso quando a cabeça começou, lentamente, a serenar. No turbilhão que têm sido estes últimos dias, tenho sentido a falta desta rotina matinal, que me permite o reencontro no silêncio. Silêncio é apenas uma forma de expressão, porque há algum tempo que não caminho sozinho. Expressões como muros e equilíbrios, desafios e centros, têm caminhado comigo, devidamente acompanhadas por outras caminhadas feitas de olhos e sorrisos e tons de voz. Típico de quando sinto que os meus fundamentos são abalados e precisam de uma recauchutagem. Que leva tempo. E que, em boa verdade, gosto de saborear devidamente.
No fim da semana passada fomos para o Magoito com o ER. No programa estava a primeira abordagem à oração, com aqueles miúdos, para quem Jesus é pouco mais que o treinador do Benfica. Para começo de conversa, mostrei-lhes a Bíblia e disse, simplificando, que para nós, cristãos, aquele é o nosso relógio, é com ela que tentamos acertar a nossa vida. Que na Palavra conseguimos saber como devemos ser e sabemos que, apesar de nunca o conseguirmos, temos sempre alguém que nos ama, quanto mais não seja pelos nossos esforços em tentá-lo.
Hoje caminhei à volta disto. Afetivamente, no quotidiano, descubro-me muito nos outros, no que vejo, no que aprendo, no que tento copiar, no que não quero copiar, os outros são muito a minha medida. Como tenho tido a sorte de viver rodeado de vida, de gente muito comprometida apesar das suas origens e destinos completamente díspares, essa tem sido uma boa e confiável medida. No entanto, racionalmente, no silêncio, quando paro para me encontrar, a minha medida é outra, e é com ela que eu tento pautar a minha vida. Quando tenho alguma dúvida mais profunda, quando sinto - me fazem sentir, na verdade! - que os meus alicerces precisam de uma reformulação, é à Palavra que recorro, é em Zaqueu e nos samaritanos, é em Madalena, e no meu recente Isaías 58, 9-12, que me encontro, e me revejo, e tento ganhar forças e sabedoria para conseguir mudar sem medo.
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