Na semana passada não consegui caminhar, Nenhuma manhã. Fosse por causa do tempo, fosse por causa do trabalho, fosse porque fosse, não consegui começar nenhuma manhã como gosto. Hoje, finalmente, consegui-o. E tinha feito já mais de metade do percurso quando a cabeça começou, lentamente, a serenar. No turbilhão que têm sido estes últimos dias, tenho sentido a falta desta rotina matinal, que me permite o reencontro no silêncio. Silêncio é apenas uma forma de expressão, porque há algum tempo que não caminho sozinho. Expressões como muros e equilíbrios, desafios e centros, têm caminhado comigo, devidamente acompanhadas por outras caminhadas feitas de olhos e sorrisos e tons de voz. Típico de quando sinto que os meus fundamentos são abalados e precisam de uma recauchutagem. Que leva tempo. E que, em boa verdade, gosto de saborear devidamente.
No fim da semana passada fomos para o Magoito com o ER. No programa estava a primeira abordagem à oração, com aqueles miúdos, para quem Jesus é pouco mais que o treinador do Benfica. Para começo de conversa, mostrei-lhes a Bíblia e disse, simplificando, que para nós, cristãos, aquele é o nosso relógio, é com ela que tentamos acertar a nossa vida. Que na Palavra conseguimos saber como devemos ser e sabemos que, apesar de nunca o conseguirmos, temos sempre alguém que nos ama, quanto mais não seja pelos nossos esforços em tentá-lo.
Hoje caminhei à volta disto. Afetivamente, no quotidiano, descubro-me muito nos outros, no que vejo, no que aprendo, no que tento copiar, no que não quero copiar, os outros são muito a minha medida. Como tenho tido a sorte de viver rodeado de vida, de gente muito comprometida apesar das suas origens e destinos completamente díspares, essa tem sido uma boa e confiável medida. No entanto, racionalmente, no silêncio, quando paro para me encontrar, a minha medida é outra, e é com ela que eu tento pautar a minha vida. Quando tenho alguma dúvida mais profunda, quando sinto - me fazem sentir, na verdade! - que os meus alicerces precisam de uma reformulação, é à Palavra que recorro, é em Zaqueu e nos samaritanos, é em Madalena, e no meu recente Isaías 58, 9-12, que me encontro, e me revejo, e tento ganhar forças e sabedoria para conseguir mudar sem medo.

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