Li apenas o título, é certo, mas ainda assim não quis acreditar. Parece que vai haver uma vacina para crianças com comportamentos problemáticos. Que vai começar a ser testada em Coimbra. Em crianças entre os três e os seis anos. Com desvantagem social e económica. Leio e não acredito.

Trabalho num lugar onde abundam as crianças com comportamentos problemáticos. Que herdam todos os dias dos pais, dos avós, dos tios, dos vizinhos e, a partir de determinada altura, dos professores, dos funcionários, dos educadores. Não admira. Não têm quem copiar, os exemplos vão todos no mesmo sentido, e não conseguem quebrar o ciclo.

Quando ele era pequeno eu dizia aos meus filhos, meio na brincadeira, que provavelmente ele viria a ser serial killer. Hoje, é meu colega de trabalho. É meu amigo. É nosso professor. Trabalhamos na mesma sala o ano passado e às tantas apercebi-me que o único que levantava a voz e se zangava era eu. E que o único que impunha respeito e levava a água ao nosso moinho era ele. E propus-me observar mais, copiar mais, aprender mais. Com ele. E aprendi. Hoje, é quase raro levantar a minha voz. É quase raro sentir necessidade de o fazer. Prefiro fazer como ele faz: baixar-me, colocar os meus olhos ao nível dos seus e falar o mais calmamente possível, firme, mas docemente. Sem ameaçar. E, lá pelo meio, dizer-lhes que gosto deles. E fazê-los sentir isso. É remédio santo. Acalmam, justificam-se e tentam não nos desiludir.

Educar é provavelmente a tarefa mais difícil. Porque, por muitos cursos que se tenha, por muito que se estude, por muitas teorias que encontremos, é olhos nos olhos que temos que o fazer. As teorias são importantes, os especialistas são importantes, mas nada substitui o olhos nos olhos, o mão na mão, a sintonia entre duas pessoas que aprendem e ensinam juntas. Nada substitui isso.

Sei que há casos e casos. Também nós temos algumas - poucas - crianças que precisam ser medicadas para se defenderem delas próprias. Sei também que para muitos pais, que vivem situações aflitivas, que nunca tiveram formação, que não sabem como hão de fazer, e o que hão de fazer, a medicação é a única possibilidade de uma vida minimamente razoável. E que se assim não fosse quem perderia mais seria a criança que, como antigamente, seria corrigida à força de pancada. Mas temo sempre muito estas medidas de normalização comportamental. Cheiram-e sempre a outros tempos, a outras ideologias, a outros perigos, imensos, que não quero, de forma alguma, ver repetidos. Qualquer que seja o pretexto.  

Dêem-se as condições para amar e as coisas serão diferentes. Eu aposto muito nisso. Nós apostamos muito nisso. E temos tido bons resultados.

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