"... o deserto é tão grande, os horizontes ficam tão longe, que fazem a gente sentir-se pequeno e permanecer em silêncio. (...) Todas as vezes que olhava para o mar ou o fogo, era capaz de ficar horas em silêncio, sem pensar em nada, mergulhado na imensidão e na força dos elementos."

Regressei, brevemente, ao Paulo Coelho. Os meus filhos gozam-me, claro. Talvez um dia entendam como por vezes é importante colocar de lado os calhamaços das coisas importantes e voltar às coisas simples. Eu faço-o algumas vezes. Quando me sinto mais perdido na azáfama quotidiana, quando preciso de voltar a pensar e a sentir o belo, quando me apercebo demasiado mergulhado na agenda, sem tempo para tudo aquilo que não é trabalho, sem disponibilidade interior para o que me faz crescer. Imponho-me fazê-lo, forço-me esquecer, ainda que por breves momentos, o que é imperativo para me ligar ao que é essencial. Paulo Coelho é apenas uma etapa, um pretexto, se calhar um refúgio, assim como o são Richard Bach ou Saint-Exupery. Nunca pego neles por muito tempo, apenas o suficiente para me recordar do que é importante na vida, que as pessoas são pessoas, não são apenas trabalho, e que o barulho do mar e o silêncio e o frio e o vento, ou uma boa conversa, um sorriso, uma partilha de coisa nenhuma, são tão importantes quanto um trabalho bem feito para que me possa deitar e sentir que o meu dia valeu a pena.

É-me muito importante regressar às coisas simples e pequenas. Quando levo as coisas demasiado a sério acabo sempre por me levar demasiado a sério, e isso é meio caminho andado para a asneira. Se estiver numa fase boa fico demasiado cheio de coisa nenhuma, se estiver numa fase má, fico cheio de nada. É puro desperdício. No fundo, trata-se de não inventar, de me confrontar com o imenso que me rodeia, de me recordar o que verdadeiramente quero na minha vida, o que verdadeiramente me faz feliz, sacudindo o pó dos dias e assentando os pés no chão. No fundo, trata-se de reencontrar. Pessoas. Fundamentalmente, pessoas. Que valem a pena, que me fazem feliz, que me deixam saudades e me despertam uma vontade imensa de regressar ao onde e ao como sempre fomos felizes. Juntos.

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