Um dos principais sintomas de que qualquer coisa cá por dentro não anda bem é a minha necessidade de preencher o silêncio. Quando isso acontece porque tenho aquilo que eu chamo "o peito cheio" não é mau. Acontece quase sempre depois de uma experiência forte de encontro, como foi Taizé este ano, por exemplo, ou Moçambique, ou Santiago. Nessas alturas parece que a vida vivida não cabe na minha vida e transbordo de qualquer maneira e tudo vale: escrever, rezar, falar, cantar, um piscar de olhos no corredor...

No entanto, tenho outras alturas, muito mais frequentes, em que tudo o que escrevo ou digo não passa de um rol de disparates. Também tenho um nome para isso, que espelha a desagradabilidade da situação: "diarreia verbal". Invariavelemente, arrependo-me do que digo ou escrevo, invariavelmente ultrapasso as marcas, invariavelmente exponho-me em demasia porque revelo o que deveria ficar reservado: a minha estupidez natural. No entanto, esta necessidade não é em nada inferior à primeira. Nem menos minha. Por isso, resisti sempre à tentação de esconder esse meu lado mais nefasto.

Se há coisa na vida que temo verdadeiramente é a responsabilidade pelas expectativas criadas. Por mais que avise que não deve ser dada muita importância ao que digo - eu próprio, como me conheço de ginjeira, já não o faço há muitos anos - normalmente isso é tomado como um ato de modéstia - que eu não tenho - e depois vejo-me catapultado para sítios aos quais sei que não pertenço, nem quero a responsabilidade de pertencer.

É nessas alturas e apenas nessas, quando as pessoas me levam demasiado a sério, que me lembro do que o meu sogro me dizia (ele que, entre muitas outras coisas pouco abonatórias acerca de mim, achou sempre que eu falava demais) "o Calado é um grande jogador!"

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