Hoje, enquanto ouvia a última da Dido (No love without freedom, no freedom without love) pensava numa conversa que tive há pouco tempo.

Quando amor e liberdade se juntam numa frase eu não consigo pensar senão em amizade. Da pura. Daquela que respeita todos os limites, todas as diferenças, daquela que não quer conformar, modelar à própria imagem e semelhança, mas deixa espaço para que cada um possa ser o que quer ser, em determinada altura, sem amarras, sem justificações, e ainda assim continuar a sentir prazer na mútua companhia. Uma relação assim só pode ser win-win. Ganhamos com a partilha, ganhamos em podermos ser inteira e assumidamente nós, sem nada na manga, e, quando temos muita sorte, ganhamos porque temos o eco sincero, justamente pela inexistência de amarras, de quem nos ama única e simplesmente pelo que queremos ser.

Porque é de verdadeiro amor que se trata - e por isso tem ligação directa com as minhas próprias entranhas - nem sempre consegui lidar com este sentimento da melhor forma. Consigo recordar-me, com alguma facilidade, de situações em que fui vítima e algoz dessa tentativa de posse, desse desejo de exclusividade de um coração que se quer aberto e disponível. Sei, por isso, como me foi difícil aprender a soltar, a deixar ir, e a ficar simplesmente à espera de um sinal, de uma vontade para reatar, como se não tivesse existido ontem. E como me continua a ser difícil (porque por vezes magoo quem não o entende) reivindicar o meu próprio espaço, o meu próprio rumo, que não conheço outra forma de indicar o caminho a quem ainda não aprendeu a amar sem amarras.

Acredito que o meu bom amigo e Mestre Tempo é um velho sábio nestas coisas da amizade. Que me ajuda a aferir, a perceber, a valorizar, fortalecendo uns laços e aligeirando outros, proporcionando encontros e desencontros, apontando e deixando despontar novos caminhos, novos rumos, fazendo entrar novas pessoas na minha vida sem que isso implica o afastamento de outras. Tenho por isso a Graça de viver pleno de olhares e sorrisos, de conversas e partilhas, de terraços e luares, que me impedem que se instale a solidão e me permitem ir revisitando os que andam cá por dentro e fazem parte de mim.

São também eles quem faz transbordar a minha taça.

Comentários

Mensagens populares deste blogue