Depois de partilhar algo com quem tive a sorte de estar em Taizé, recebi de volta uma pequena provocação: "isso é tudo saudades?". Respondi na hora: "sódade di nóis".

Não sou pessoa de grandes saudades. Nem de viajar muito ao passado, que no passado é que era bom. Talvez porque não tenha tido uma infância que valha a pena recordar, cedo aprendi a valorizar muito o momento que vivo, cada momento, quase sempre com um gozo muito maior na viagem que na antecipação do destino. E, quando tenho saudades, nunca são os momentos que me assaltam as memórias, mas o nós desses momentos.

Eu gosto muito do nós. Aposto muito no nós. Porque o nós é sempre muito melhor que a mera soma dos eu. Quando sentimos alguma abertura por parte de alguém, quando sentimos que podemos estar à vontade, que podemos confiar, que podemos baixar as defesas e soltar as amarras, aquilo que nos permitimos descobrir uns dos outros é sempre o melhor de cada um. Mesmo (especialmente?) quando partilhamos os pequenos e grandes fracassos das nossas vidas, quando pensamos que estamos a baixar as expectativas que os outros têm em relação a nós próprios porque vão ficar a conhecer os nossos terríveis segredos, percebemos que é justamente nessa partilha íntima que nos descobrem maiores que o que sentimos merecer ser. E então, quando nos propomos fazer coisas juntos, arriscar juntos, de peito aberto, ultrapassando os nossos próprios fantasmas porque sabemos que temos as costas quentes, descobrimos capacidades e dons que teimávamos em esconder debaixo do alpendre com medo de falhar.

Vi, na semana passada, o Into the Wild, que, como grande filme que é, ainda não saiu cá de dentro (por isso ainda é cedo para me agarrar em demasia a ele). É a perfeita antítese do nóis. É o desprezo dos outros, o considerar estar acima dos outros, o achar que é o único que marcha com o passo certo.

Ainda ontem à noite li mais um curtíssimo capítulo do Jesus, CEO, que me tem feito companhia nestes últimos tempos: "Ele formou uma equipa. Mesmo Jesus não quis mudar o mundo sozinho. Se, como líder, quiser realizar alguma coisa importante, o primeiro passo para atingir o seu objectivo é criar uma equipa. A verdade é que as boas ideias, as intenções nobres, as invenções brilhantes e as descobertas milagrosas não chegam a lado nenhum se não se formar uma equipa..."

Eu não subsistiria sem o nóis.

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