Desde sempre que conheço quem não sabe receber. Pessoas que funcionam com um código de troca e não de dádiva, que se sentem sempre, sempre, na obrigação de retribuir quando alguém faz algo por elas, ou lhes dá alguma coisa. Apesar  de quase todas elas - pelos menos das que conheço - o fazerem por uma questão de educação e não por medo de ficar a dever o que quer que seja, esta é uma daquelas coisas que me irritam profundamente.
Da mesma forma, também conheço pessoas que me dão e que depois, quando contam cobrar, ficam confusos quando não vêem em mim essa necessidade de lhes retribuir. Ficam eles, e fico eu, que raramente me apercebo do que está a acontecer nessas alturas.

No entanto, tenho que admitir que também para mim é muito mais fácil dar que receber.

Enviaram-me, num destes dias, uma das partilhas mais profundas e bonitas que já li. Deixou-me muito feliz porque, antes de mais, espelhava a sintonia de uma conquista mútua, feita de despojamentos, plena de interioridades, de todos aqueles tesouros que acontecem lá, naquele lugar onde apenas acede quem concedemos aceder. E que me fez sentir tremendamente privilegiado! Esses momentos são normalmente partilhados numa troca de olhares, numa cumplicidade de sorrisos, num bater de corações que evita as palavras, ditas ou escritas, que, porque são ditas ou escritas, implicam directamente quem as escuta ou lê. No entanto, Graças a Deus!, estas palavras estavam lá e têm-me permitido revisitá-las com toda a calma e serenidade que uma tal partilha exige.

Cruzamo-nos pouco depois por acaso. Fico sem jeito, sem saber o que fazer, o que dizer, como me hei de comportar, quando estas coisas acontecem. O mais normal é meter água, dizer uma qualquer graça sem graça nenhuma, que mais não consegue que agravar a minha dificuldade em saber receber. Nessas alturas, a  naturalidade que me imponho, justamente porque ma imponho, é tudo menos natural. O que eu gostaria mesmo era de ver em mim, nestas alturas, o que adoro ver nos outros: os olhos que sorriem, felizes, porque se sabem amados.

Tenho ainda muito que aprender!

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