Na semana passada participei numa eucaristia que um bom padre conseguiu tornar especial. Eu sei que no papel todas o são, que é onde acontece o encontro connosco próprios, com os outros e com Deus, e blá blá, mas mesmo para mim, que normalmente gosto das eucaristias, umas são melhores que as outras.

Na homilia, o sacerdote, com uma enorme capacidade de correr riscos com miúdos que nem sequer conhecia - o que revela uma enorme segurança (ou inconsciência, o que por vezes também acontece) - pega na Parábola do Filho Pródigo e trata de encetar um diálogo com os miúdos colocando uma série de questões e provocando as suas respostas. 
Confesso que a certa altura desliguei. 
Porque o que me interpelou foi outra coisa.

Durante a minha vida fui, muitas vezes, o filho pródigo e voltei aos que me amam para lamber as feridas, profundamente arrependido e desolado pelas camelices que fiz. Durante a minha vida fui, muitas vezes, o filho mais velho e olhei de soslaio o acolhimento que foi feito aos que, na minha opinião (e do alto do meu ciúme), se tinham baldado grandemente enquanto eu, inocentemente, desinteressadamente, apenas por ser completamente bom (pois!) me esfalfara a fazer o que os outros esperavam que eu fizesse. 
O que é verdade é que naquela eucaristia me apercebi que fui muitas vezes filho mas nunca fui um pai que simplesmente acolhe.

Se um dos meus filhos chegasse a casa depois de um período de ausência em que não tivesse dado notícias, em que tivesse estoirado tudo, em que fosse um estroina que não queria saber da família para nada, muito dificilmente eu o acolheria sem, primeiro, lhe ter dado dois bananos mal chegasse à minha beira ou, no mínimo, lhe ter enchido a cabeça de tal forma que ele teria vontade de me virar costas e preferido voltar a comer com os porcos. 

Esta capacidade de acolher sem recriminar é das coisas que mais me desinquietam no Evangelho. A forma como Jesus acolheu a Samaritana, a Pecadora, Zaqueu, que, ao contrário do que acontece com o Filho Pródigo, não são parábolas mas relatos de acontecimentos presenciados, testemunhados por muitas pessoas, tornou-se, em determinadas alturas da minha vida, numa das maiores fontes de segurança e de confiança. Saber que o meu Deus, o Pai que me ama, me acolhe com um sorriso sem me perguntar onde estive, por onde andei, porque me afastei, tornou-se um imenso porto seguro. E, principalmente, ajudou-me a conseguir voltar a encarar os que, porque me amam, saíram profundamente magoados pela minha ainda mais profunda estupidez. 

A partir de determinada altura comecei a tentar fazer algo parecido com os meus filhos. A faze-los sentir que, independentemente das suas camelices teriam sempre quem os cobrisse de beijos no regresso, que os esperaria de braços abertos e sorriso nos lábios. Estou ainda longe, muito longe de o conseguir. Porque o meu amor tem um lado egoísta: o que seria de mim se os perdesse? O que seria de mim se, por qualquer motivo, a sua vida não fosse a minha vida? Não aprendi, ainda, a amar completamente, sem deixar que o "eu" e o "me" interfiram nesta equação. 
E, para ser sincero, é daquelas coisas que duvido que alguma vez conseguirei. 

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