Mais uma vez, como acontece sempre que regresso de uma experiência forte de partilha - e, particularmente nos últimos anos, tenho tido algumas, Graças a Deus! - obrigo-me a um processo de desmame. Quando acordo tento calar as músicas que me acompanharam os sonhos e que teimam em fazer-me companhia no pequeno almoço,, tento não falar (mais uma vez!) do assunto para não ferir ainda mais uma ausência imposta, tento convencer-me, a cada momento, que o que vivi serve apenas para alimentar o que vivo todos os dias.

Para todos os efeitos, esta é sempre uma tentativa de gestão da perda. Que, para "ajudar", é invariavelmente acompanhada por algum sentimento de culpa. Como se não fosse justo ser feliz fora daqueles a quem tanto amo e que me são tão importantes. Como se tivesse a obrigatoriedade de, estando longe da sua vista, penar pelos cantos, chorar baba e ranho, de tal forma sinto a sua falta. Como se, de alguma forma, a felicidade apenas fizesse sentido nos momentos em que os tenho junto de mim, e não apenas dentro de mim. Como se, de alguma forma, me fosse vedado ser feliz, verdadeiramente feliz, junto de outros que comigo também caminham, também partilham, de tal maneira que também acabam por habitar cá por dentro. Como se, de alguma forma, os estivesse a trair por conseguir ser feliz sem os ter à minha beira.

Isto é algo com que tenho que aprender a lidar, para melhor poder viver. Não gosto de espartilhos, não gosto de convenções, não gosto de fazer de conta, não gosto de nada que possa limitar uma autenticidade que aprendi a conquistar (sem nunca saber quem conquistou quem) e que, à medida que o tempo avança, me é cada vez mais preciosa. Tenho, por isso, que tentar entender este sentimento de posse - no sentido em que me sinto de alguém - para o poder trabalhar dentro de mim. Acredito que, assim como os meus filhos me vão ensinando a deixá-los voar (ainda que sempre sob o meu olhar atento), talvez um dia eu me permita voar (ainda que deseje, no mais íntimo de mim mesmo, que nunca desliguem o seu olhar do meu voo).

É que, em boa verdade, estou um bocado farto de desmames.

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