Uma das coisas que aprendi em Moçambique foi que o meu olhar por vezes incomoda. Nunca tinha pensado nisso dessa forma. É certo que para mim o primeiro impacto das pessoas está sempre ligado aos seus olhos, se sorriem, se têm vida, se são vazios, alegres ou baços. É natural, por isso, que tenda a olhar fixamente para as pessoas, que tente ler nos seus olhos o que lhes vai na alma. Para mim o olhar é o mais claro indicador da beleza de uma pessoa, e para o caso nem sequer é importante se é homem ou mulher. Há olhares que me despertam logo à partida para um tipo de beleza interior que transborda e torna todo o exterior mais especial. Outros, porém, não me dizem nada, e costumam ser fatídicos: pessoas com olhares mortiços têm que se esforçar muito para me agradarem. E há também olhares frios, absolutamente gélidos, que me intimidam sempre, que me levam a pensar meia dúzia de vezes antes de dizer o que quer que seja, com cujos donos tento ser cordial mas de quem não sou amigo. A não ser que se transformem.

Ainda ontem, numa animada conversa com as minhas filhas - uma pró-praxe e outra que não tinha pachorra para aquilo - eu lhes dizia que nunca aceitaria ser praxado na faculdade porque nunca aceitaria não olhar as pessoas nos olhos. Para além de não perceber a barbaridade das humilhações públicas - algo com o qual seria impossível compactuar, nem sequer por omissão - nunca na vida me senti de tal forma subalterno que não pudesse olhar ninguém nos olhos. Mesmo quando cometo as maiores camelices, mesmo quando sei que não tenho razão, mesmo quando tenho que pedir desculpa, é absolutamente fundamental olhar nos olhos de quem magoei. Porque só assim consigo transmitir até que ponto necessito do seu perdão.


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