Apesar de ambos nos amarmos, sabemos que somos diferentes. Muito diferentes.
Num dia destes, enquanto via - via efetivamente, não lia - o que vou colocando nos meus blogues, dizia-me que eu parecia um adolescente, com questões que já não deveria ter na minha idade, com tentativas de respostas que já não deveria dar.
Sorri, como sorrio sempre que me faz esse tipo de críticas. E respondi como sempre respondo, com a verdade mais lapaliciana que conheço e mais digo porque é frequentemente esquecida: tudo tem custos. Se queres alguém na tua vida que dê um pouco de ar fresco à enorme seriedade e responsabilidade que usas em toda a tua vida, tens necessariamente que lidar com algumas infantilidades fora de tempo e de moda.
Será esse, possivelmente, um dos nossos "segredos". Somos ambos muito diferentes, fizemos percursos quase opostos até que a vida - Deus? - nos colocou frente a frente. Desde esse dia, ainda que por vezes fisicamente longe um do outro, nunca mais concebemos uma vida a solo: começou por ser um dueto, depois um trio, e agora anda perto de uma banda filarmónica. Conscientemente, nunca deixamos que a solidão tomasse conta de nenhum de nós, de nenhum dos nossos, e vamos revezando-nos mutuamente no apoio que, alternadamente, vamos precisando e pedindo sem pedir.Durante as muitas vicissitudes que a vida se encarregou de nos apresentar lá fomos conseguindo dar colo umas vezes, pedir colo noutras, e refugiarmo-nos no colo do Pai quando estávamos ambos demasiado cansados para suportar o que quer que seja. `s vezes é fácil entendermo-nos, noutras, porém, temos que recorrer a uma enorme lupa, uma lanterna bem potente e doses incomensuráveis de pachorra para conseguirmos deslindar um ponto em comum. Mas lá vamos conseguindo, às vezes sabe Deus como, mas lá vamos conseguindo. E o gerúndio aqui é absolutamente fundamental porque um casamento nunca se consegue definitivamente, nunca há aquela altura em que nos sentamos no sofá, descalçamos os sapatos e nos instalamos na vida com a sensação que agora tudo está conseguido, nada poderá estragar o esquema. No dia em que ambos fizermos isso, o céu cair-nos-à em cima da cabeça.
Mas como dizem numa velha aldeia gaulesa a norte da Armórica: amanhã não vai ser a véspera desse dia.

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