Tenho alturas em que sinto claramente que Deus tem os olhos postos (também) em mim.
Quem me conhece de perto, mesmo de perto, sabe que tenho uma grande tendência para me armar aos cucos. Que quando as coisas me correm bem por muito tempo, quando vou tendo algum sucesso, algum reconhecimento,começo a embarcar em mim, a ficar cheio de mim e a dar espaço à arrogância. Como estou rodeado por pessoas que me conhecem bem, autênticos grilos falantes, sou muitas vezes corrigido, mas o verdadeiro perigo é quando não ligo patavina ao que me vão dizendo. Às tantas estou mesmo obcecado com a minha própria visão das coisas e não consigo ver um palmo para além do meu nariz, ou do meu enorme umbigo.
É nestas alturas, justamente nestas alturas, que sinto que Deus intervém na minha vida. E quase nunca de uma forma agradável. Normalmente actua através de um qualquer acontecimento que me faz cair em mim, ver as minhas enormes limitações, e assumir que preciso de um bom banho de humildade.
Foi isso que aconteceu entre ontem no final da tarde e hoje de manhã. O meu grilo falante alertou-me para a forma como falei, demasiado senhor de mim, demasiado arrogante, demasiado certo do meu ponto de vista. Acusei o toque e fiquei a remoer cá por dentro, como sempre, aliás.
Hoje acordei com uma má notícia no e-mail e pensei no que acontecera ontem. Alguns dirão que não tem nada a ver, que foi coincidência, que um caso não tem nada a ver com o outro. É uma forma de ver as coisas. Não é aquela que eu escolho. Eu escolho tentar ver a minha vida, o que me vai acontecendo, de bom ou de menos bom, como fazendo parte de um caminho. Que precisa muitas vezes de ser corrigido, que precisa sempre de ser afinado, que preciso, eu próprio, de me colocar em sintonia com o que o Pai espera de mim. Não é uma questão de superstição do tipo: se me portar bem terei apenas coisas boas. Não é isso. É tentar ver a minha vida com os olhos de Deus.
Porque sei que quando não sou capaz de o fazer, a minha vida é bem mais feia.
E não é para isso que sou cristão.

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