propósitos


Nunca fui muito de propósitos quaresmais. Como nunca percebi porque se faziam apenas nesta altura e não sempre - se eram assim tão importantes, porque não mantê-los? - nunca me dei ao trabalho de os fazer e muito menos de os cumprir. No entanto, na prática o que acontece é que nem os faço na quaresma nem os faço em qualquer outra altura e os propósitos acabam por me passar ao lado.

Este ano, no nosso grupo de reflexão em Taizé, estava um padre, excelente, por sinal, que nos falou do seu propósito quaresmal. Como havia entre nós quem não entendesse a sua utilidade, ele lá explicou a importância, para ele, de ter um período da vida em que se provava a si mesmo ser senhor do seu corpo não cedendo a vícios. Depois, mais tarde, retomava-os, mas com a certeza que era ainda ele quem mandava. 

Hoje veio-me parar ao olhar o texto quaresmal do papa Francisco do ano passado. A certa altura ele escrevia a importância do seguinte: "Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade."

Eu leio quase todos os escritos do Papa. O que não significa que os incorpore todos. Hoje, ao ler aquilo que já tinha lido no ano passado, encontrei um eco diferente. Talvez porque conversamos acerca disso em Taizé, talvez porque a minha disposição interior seja um pouco diferente, talvez porque a minha necessidade seja outra, talvez por causa da maturidade, seja lá porque for, o que importa é que o que há um ano me passou despercebido, hoje faz sentido.

Ao ponto de, pela primeira vez, ter feito alguns propósitos para esta Quaresma.

Se os cumpro, é outra conversa.

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