deserto


Creio que gostaria de fazer uma experiência de deserto. O mais próximo que estive foi um retiro de três dias de silêncio. E gostei imenso! Poder estar apenas com os meus pensamentos e as minhas orações, não ter que elaborar para partilhar, preocupar-me apenas em receber os ensinamentos de quem orienta os trabalhos, não é muito comum na minha vida pessoal e de fé, o que muitas vezes me leva a ansiar essa experiência de solidão. Claro que a solidão voluntária nada tem a ver com a solidão imposta, pelo que havia, na minha experiência de retiro, uma espécie de artifício que implicava que a solidão tenha necessariamente um peso muito menor. Até porque a solidão era apenas interior, uma vez que estava em retiro com outros.

Uma das melhores memórias que tenho do retiro nada teve a ver com o retiro em si. Como aconteceu numa altura em que estava cheio de trabalho e de noites mal dormidas por causa do trabalho, recordo o conforto que foi poder dormir sempre que quisesse. Recordo-me que apenas ao fim de dois ou três somos fora de horas consegui a concentração e a vontade necessárias para poder rezar o que me era pedido para rezar. Curiosamente, em Taizé aconteceu-me isso mesmo. Apenas ao final do terceiro dia conseguia aguentar o silêncio da oração sem sentir o esforço de me manter acordado. E apenas aí a oração começou a frutificar. Uma das descobertas que o silêncio me impõe é justamente a sua exigência física: o corpo precisa de estar bem para que a alma possa dialogar.

Talvez seja por tudo isto que gostaria de fazer uma experiência (controlada) de deserto. Poder ser eu e apenas eu a pautar os ritmos, as horas, os pensamentos e procedimentos soa a tentação quase irresistível.

Ainda que, com toda a probabilidade, ao fim de uma hora já estivesse cheio de vontade de regressar aos meus.

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