Mais a sério, mais a fundo, faço dois balanços por ano: um no final e outro a meio, por altura do meu aniversário. Eu gosto muito de balanços, de os fazer, de os avaliar, de analisar a minha situação, o caminho percorrido, o caminho perdido, o caminho escolhido percorrer, o que fui perdendo e ganhando, o que foi ficando para trás, para segundas núpcias, para uma outra vida!
Este é, inegavelmente, um exercício de memória. Não tanto do que foi feito, exatamente, mas do que fica do que foi feito, do que fica do que foi dito, do que fica daqueles com quem foi feito. E este foi um ano de muitas coisas, muitos acontecimentos completamente novos e renovados, de erros e recomeços, de renascimentos, de novas maneiras de fazer o que antes tinha sido feito de uma outra maneira. Este foi também ano de projetos, novos e renovados projetos, novos e renovados sonhos, novas e renovadas maneiras de sonhar o que sempre foi sonhado.
Chego à meia idade com essa sensação: que esta é, mesmo, uma meia idade. Já não sou novo e ainda não sou velho, tenho menos gente em casa e ainda não tenho mais gente em casa, já não tenho o pedal que tinha mas ainda não reduzi a azáfama. Esta é a altura do já mas ainda não. Por isso este refazer tão presente, tão constante.
No entanto, fazer o balanço não pode ser um exercício frívolo. Tem que servir para redefinir objetivos e sonhos e desejos e projetos. Por muito boas que as memórias sejam, são apenas isso, memórias, e vivi já o suficiente para perceber - por vezes a tremendo custo - que há caminhos que não voltarão a ser percorridos. Pelo menos, não da mesma maneira. Por isso, é arriscar avançar, passar a ponte, por muito que esta se nos afigure frágil, por muito que não consigamos descortinar o que estará do outro lado.
Viver é arriscar. Sempre foi arriscar. Um risco calculado. Que se transforma miraculosamente em meio risco quando sabemos, sobretudo, com quem vivemos. Sobretudo quando sabemos com quem caminhamos. Sobretudo quando nos apercebemos que quem nos acompanha, apesar de tudo, permanece, está, fica, não vai a lado nenhum, não quer ir a lado nenhum. O que torna a viagem uma outra viagem. Sempre sonhada. O que torna o sonho um outro sonho. Feito de recomeços. Constantes recomeços.  Feito de projetos. Novos e redesenhados projetos. Feito de futuros. Novos e apostados futuros. Porque tudo o que está para vir é futuro. Porque tudo o que está para vir é muito desejado e sonhado e amado. Antes ainda de ser.

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