Ontem, naquele final de tarde delicioso junto ao mar, notava-se que, a poucos metros, se iniciava um concerto. Era ainda maior o número de estrangeiros(?) na casa dos trintas que aproveitavam a beleza, o sol e o cheiro do mar, que metiam os pés na água ainda gelada da foz, devidamente acompanhados daquela coisa a que chamam jantar: fruta e vinho verde. Há de sempre fazer-me alguma confusão a sua dificuldade em sentar á mesa nas horas em que o deviam fazer! Quando vinha para cima, vi junto a tabela de basquete dois espanhóis a fazerem umas jogadas, despreocupadamente. Passados alguns minutos chegaram dois rapazes britânicos e ficaram a olhar. Juntou-se-lhes pouco depois um casal que devia ser oriundo de um dos países nórdicos. Alguns minutos mais tarde, estavam todos a jogar juntos, entendendo-se naquele inglês macarrónico que é agora a primeira língua de muitos jovens europeus.
Olhava-os, admirando-os e ao mundo que habito. Esta é daquelas raras alturas em que eu gostaria de ter menos duas décadas. A facilidade com que viajam, a forma como sentem a europa como sendo a sua casa, a normalidade com que comunicam, tudo isso é, para mim, motivo para encarar o século XXI com um sorriso, como diz um sábio amigo. Nada - a não ser o pudor que o bom senso ainda me fornece - me impediria de participar naquela improvisada partida de basquete. O pudor e a consciência que, no entanto, é um outro mundo, a kms do meu, aquele que eles protagonizam. Um mundo que respira uma outra forma e facilidade de comunicar, de viajar, de conhecer, de interpretar o mundo à volta, uma outra cultura de vida. Um mundo porventura com menores raízes e maiores aberturas, menos bafiento, maior permeabilidade. Não necessariamente melhor, mas indiscutivelmente diferente, ao ponto de nos ser tremendamente difícil avaliar. O seu paradigma é outro, o que nos levanta muitas questões, enquanto pais, por exemplo, quando queremos perceber algumas das escolhas dos nossos filhos. Vemos essas escolhas com os olhos do séc. XX quando eles têm que as viver numa era completamente diferente da nossa!
Orgulho-me que tenha sido precisamente a minha geração, com todas as contradições, erros e hesitações, a possibilitar que eles vivam nesse mundo. Que é o mundo dos meus filhos, dos miúdos cujo crescimento acompanhamos atentamente ao longo dos últimos anos.
É um mundo fabuloso, este, que eu tenho o verdadeiro privilégio de ver sedimentar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue