Há partes de nós que não são de ninguém. Nem sequer nossas. Partes feitas de pedaços mal contados e ainda pior resolvidos, palavras que não dissemos por falta de coragem, sentimentos afogados, que escondemos e dos quais nos escondemos, por medo ou vergonha, porventura à espera de uma outra vida que possa ser vivida de forma diferente. São partes de nós que não são nossas porque não as queremos nossas, porque teimamos que não são nossas, e teimamos tanto que as temos por indesejada e permanente companhia. São partes tão não nossas que se nos entranham na alma e no peito e na vida. São partes tão não nossas que, somadas às partes orgulhosamente nossas, constituem a amálgama do nós que nos habita.
Depois de uma Jornada que, por todos os motivos e mais um, me encheu a medida, estou, finalmente! de férias. Como sempre acontece, ontem fui à missa. Uma igreja pequenina, fora dos grandes centros, predominantemente com avós e alguns netos. No altar, um sacerdote que poderia ser avô, a debitar, solene e profusamente, sobre o que aconteceu na JMJ: a maravilha que é ter tanta juventude reunida, a enorme importância do silêncio - que, segundo ele, os jovens não conseguem fazer (e ele não se calou um segundo!) - a organização da Igreja, capaz de congregar gente de todo o mundo, e sobretudo a centralidade da eucaristia dominical pois sem a paróquia nada se consegue. E termina a homilia assim: vamos rezar pelos nossos jovens, para que eles descubram que é possível a alegria na Igreja. Como se a alegria em que vivi mergulhado na semana passada acontecesse por causa deles e não apesar deles! Confesso que me torci todo com aquela homilia autoreferencial. Como é possível, depois do que vivi, dep
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