20180701
Estava eu alguns metros acima do solo e, como de costume, comecei mentalmente a chamar-me de tudo. A subida já tinha sido penosa, demasiado penosa, e à vista de todos ainda por cima, e era agora tempo de tentar parar as tremeliquices no corpo todo, esquecer o medo, e avançar. Arvorismo, como outros ismos, não são mesmo para mim. nem sequer é o fator idade, mas o fator medo, mesmo: alturas e atividades radicais nunca foram a minha praia.
Mas isso é uma coisa. Outra, bem diferente, é permitir que o medo me impeça de fazer. Já basta quando me impede de ser, o que acontece mais vezes que as que gostaria, mas tento sempre que o medo não me tolha. Era mesmo nisto que eu pensava enquanto subia, e era mesmo isto que lhes ouvia: eles, que momentos antes tinham dito que tinham medo, vieram a seguir a mim.
Há sempre uma enorme dose de loucura ao enfrentarmos os nossos medos. Não basta o medo em si , o termos que ultrapassar os nossos instintos de conservação e de proteção, e ainda temos a dúvida - nossa e dos outros - a fazer mossa. Passada a pica que leva à decisão de enfrentar, tudo o resto são dúvidas, que minam, que perturbam, que roubam a confiança. Arriscamos e as vozes dos outros não nos saem da cabeça. E como sabemos que essas vozes vêm sempre de quem nos ama, adquirem uma repercussão ainda maior. E, no entanto, ainda assim, por vezes avanço. Com vozes e tudo.
Eu arrisco muitas vezes. Imensas! Não tanto fisicamente, mas mentalmente. Saio muitas vezes da minha zona de conforto - que quase sempre em sei bem qual é - procuro outras, tentando fundamentalmente ir sendo mais. Já perdi imensas vezes, e coisas não pouco importantes, que me forçaram a refazer-me. Se de menino e de louco todos temos um pouco, eu tenho imenso. De ambos!
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