Já não o fazia há muito tempo. Demasiado tempo! Não percebo as pessoas que não gostam de estar sem fazer nada. Estar só. Estar. Só. Eu sentei-me no jardim, uma manta em cima do corpo, apesar do sol, e deixei-me estar. Fechei os olhos, deixei que os sons me invadissem e fui identificando-os. Um a um. Até deixar de os ouvir. Depois os pensamentos. Em catadupa no início, fila indiana depois, de longe a longe, mais tarde. Não sei quanto tempo estive ali, no meu jardim, longe da vida. Mergulhado na vida. Creio que adormeci. Ou então, estava tudo tão entorpecido que posso ou não ter adormecido. Se calhar adormeci de olhos abertos. Sonhei de olhos abertos. repousei de olhos abertos. E alma fechada. Pelo menos para tudo aquilo que me era exterior. Só eu. Eu e a minha alma. Eu e os meus pensamentos. Eu e os meus sentimentos. Eu e os que amo. Eu e o meu Deus. Sem que uns ou outros disso saibam. Dir-se-ia que estava a perder tempo. Eu próprio, às tantas, sentia-me um tanto ou quanto culpado porque estava a perder tempo. Não estava a perder tempo. Estava. Apenas. Deixando que a vida flua. Que a alma flua. Que eu flua. No final, nada tinha mudado, Nada se tinha alterado. O que tu tinha para fazer continuava por fazer. O lugar onde eu tinha que ir continuava lá. Exatamente no mesmo lugar. e nem sequer o relógio mostrou grande preocupação e continuou a contar o tempo exatamente ao mesmo compasso. Nada perdi, afinal. Nada ganhei, também, na verdade. Apenas estive, num parêntesis de não acontecimento, de não fazer, de apenas ser, naquele bocado daquela tarde daquele sábado. 

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