Eu mesmo, por mim mesmo, para mim mesmo. Esta foi a conclusão do estudo de hoje. Simples. Eu, quando começo, continuo e acabo em mim. Só. Eu e Eu & Cª Lda. como se dizia antes.

Penso muitas vezes em mim, não como o diabo - não acredito no diabo mas na existência do mal - mas como alguém em quem o mal está sempre à espreita.

Eu vivo num limbo. Permanente. Provavelmente é o que acontecerá com a maioria das pessoas, eu não sou especial de corrida em coisa nenhuma e por isso não serei nesta, mas o que é facto é que eu vivo num limbo. Permanente. por isso deveria pensar cada passo, cuidadosamente, laboriosamente, dando tempo e espaço ao juízo que, embora vaga e preguiçosamente, ainda vou tendo. Não acontece. As decisões mais importantes, porventura mais decisivas, são sempre as menos fundamentadas. Tipo Lucky Luke: disparo primeiro e depois vê-se. Vivo, deixo-me viver, sigo um impulso, e depois, por vezes, muitas vezes, deito as mãos à cabeça. É, por isso, frequente, ver o diabo quando olho ao espelho. E o anjo, na verdade. Não só quando olho ao espelho, na verdade. Quando olho os outros também. Por vezes até no mesmo dia. Ora me parecem o diabo, ora me comovem até à medula com gestos de bondade que desmentem tudo o que lhes vira até então.

Creio que a questão é todos nós somos anjos e demónios. Todos nós, em determinada altura, sob determinadas condições, escolhemos, umas vezes bem, outras nem tanto, com consequências para nós e para os outros. Parece-me que isto é evidente e normal, ainda que fosse bem melhor se assim não fosse.

Por vezes posso dar a sensação que endeuso pessoas. Noutras, não que as desprezo, mas que me são indiferentes. Esta é, aliás, uma acusação que me é regularmente feita. Nenhuma delas corresponde à verdade. Ou talvez ambas correspondam à verdade. Porque a verdade é que dificilmente me agarro à imagem de alguém. Porque a verdade é que, sobretudo, acontece que essa imagem perdure no tempo. O tempo que, em mim, suaviza sempre o diabo dentro de nós e deixa que o anjo lhe tome o lugar. Eu, que muito dificilmente esqueço palavras, gestos e atitudes, tenho como que uma memória seletiva: de fora para dentro prevalecem os anjos; de dentro para fora, os demónios. Recordo sempre o bom que me foi feito e o mal que fiz. Sempre.
Talvez seja esta uma das raízes de eu viver a vida com permanente espanto. E maior gratidão.

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