20180606
Ele é daquelas pessoas que admiro profundamente. Há muitos anos. Provavelmente não devido aos motivos que ele achará, mas ele sabe que o admiro profundamente. É uma daquelas pessoas com um conhecimento que admiro, o tipo de conhecimento que, nem que eu vivesse cem anos, conseguiria alcançar. Junta fé a poesia e literatura, devidamente salpicadas com boa música, tudo envolvido numa profundidade e (às vezes) serenidade que me é tremendamente sedutora. Porque inacessível.
Hoje escutava-o, embevecido, e apetecia-me abraçá-lo. Mas, mais que isso, a vontade que tinha mesmo era de sentar e conversarmos.
Um dos meus maiores enigmas é perceber porque raio por vezes não damos o melhor de nós aos outros. É como se nos encolhêssemos, se nos apresentássemos pela metade, baixado sistematicamente a fasquia. No meu caso, andará provavelmente por aqui, uma vez que duas coisas me assustam de morte: as exacerbadas expectativas dos outros - que eu sei que algures no tempo irei defraudar; e que pensem que eu me coloco em bicos de pés - talvez porque às vezes me coloco mesmo e invariavelmente dou com os queixos no chão. Daí que, frequentemente, me sinta assoberbado pelo que os outros esperam que eu faça, querem que eu faça, e sobretudo, têm a esperança que eu faça bem feito, e nada melhor para combater isso que ir avisando. O problema é que volta e meia, a muito custo, lá vou cumprindo as expectativas e ninguém acredita nos meus avisos. Até um dia.
Pensava tudo isto enquanto o escutava. Porque por vezes também ele mostra uma faceta da qual nem ele próprio gosta. Nessas alturas penso - talvez com um pequeno grau de satisfação egocentrista - que ele, como eu, também anda à procura. Por outros caminhos, claro, muito mais adiante, mas também à procura. Talvez seja um pouco isso o que nos une: a procura.
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