Uma das minhas maiores e mais naturais consistências é a minha arte de meter água. Não me consigo limitar a meter água como toda a gente mete água: parcimoniosamente, com estilo, como quem não quer a coisa para que a coisa não se note muito. Eu não. Não vou em modinhas. Quando meto água remeto-me para coisas em grande: o dilúvio, com Noé à cabeceira, ou então, nos momentos menos maus, aquelas ondas bigalhonas da Nazaré mas comigo sem prancha e a partir-me todo pelo meio.
Confesso que até poderia (con)viver vem com isso se a água que meto não arrastasse mais ninguém. Se - voltando a Noé - a minha água fosse meio de salvação - conheço alguém que é isso mesmo: água que salva! - ou, pelo menos, se conseguisse que os outros se mantivessem em terra firme e com a distância afetiva suficiente que lhes permitisse gozar o panorama e tirar belas fotos a partir da segurança das margens.
Volta e meia sinto um impulso enorme em me desligar de tudo isso. Se tiver que meter água, se tiver que me afogar, ao menos que seja apenas eu e afogar-me. Normalmente não há baixas de maior, casualties, como se diz nos filmes, e as únicas equimoses são as que marcam a história do meu corpo. E da minha alma. Desta vez, no entanto, é diferente. Não naufraguei sozinho.
E essa dor de quem se ama dói como o caraças!

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