Já não via a Sara há bastante tempo. Sabia, pela conversa que tivera com os outros miúdos que eram amigos dela e deixaram de ser, que a sua realidade atual não era famosa. Que quer setor? Ela é que escolheu. Meteu-se no que não devia e agora anda por aí aos caídos. Ontem vi a Sara. Eu estava de saída do espaço e ela vinha na minha direção. Ainda tentou fazer de conta que não me via mas eu não deixei. Sorri ainda antes de me aproximar e ela sorriu de volta. Olhamo-nos uns segundos, perguntei porque andava ela fugida e porque tinha desaparecido. Ela encolheu os ombros e perguntei se era vergonha. Não tenho vergonha de nada do que faço. Isso é história, e tu sabes disso. Mas também sabes que aqui tens pessoas que gostam de ti e têm saudades tuas. E que as portas estão sempre abertas. Sorriu, abraçou-me, e seguimos caminho. Lembrei-me logo do Pavão, a propósito de quem tínhamos falado na Sara. Ao Pavão dissera o mesmo mas sabíamos ambos que era demasiado tarde, que a sua dependência não lhe permitiria voltar apenas porque eu falei com ele. e nunca mais o vi, desde esse dia. Espero que com a Sara seja diferente. Estes miúdos desconhecem muitas vezes o significado de recomeçar. À força da muita asneira que vão vendo e fazendo vão vestindo a mais confortável pele da rejeição e da auto-punição e ficam desconcertados quando alguém lhes troca as voltas. Talvez seja também por isso que os entendo tão bem!

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