Quem partilha caminhos e terraços e luares e dores e alegrias, está destinado a permanecer. A vida até pode promover momentâneos afastamentos mas fá-lo apenas momentaneamente, circunstancialmente. Na realidade, nós vamo-nos acompanhando. à distância, mas sempre sob o nosso mútuo olhar atento do amor.

Quando falo em amor referindo-me a amigos lembro-me sempre do Ascenção, que nunca teve medo das palavras. Quando dizia a um amigo que o amava sabia bem o que dizia. Não retirava peso algum mas não se coibia em dizê-lo apenas por temer más interpretações. Eu próprio aprendi isso com ele mas não consegui fazê-lo por muito tempo. Talvez fosse falta de convicção da minha parte. Talvez ficasse farto das confusões e das bocas que daí resultaram. No entanto, se deixei de o pronunciar, nunca deixei de o sentir. Referi já por muitas vezes que a amizade é para mim uma sublime forma de amar. Pela liberdade, pela plenitude, pela paciência, pela verdade.

Não se pode, contudo, confundir as coisas. Amar um amigo é muito diferente de amar alguém com quem se quer partilhar o quotidiano. Por muito intensa que seja a relação com um amigo - e os meus escassos amigos não têm idade, sexo, condição social ou raça (o que já me provocou alguns dissabores) - afetivamente voltamos sempre para casa, para a nossa casa, para o nosso reduto. Mas quando amamos ao ponto de partilhar a vida e o quotidiano, a nossa casa afetiva nunca é apenas nossa. E essa é ainda uma liberdade, plenitude e verdade ainda maiores. 

Por isso é tão intenso e saboroso! 

Por isso é tão difícil de manter!

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