Não me recordo de viver uma Quaresma pacificado. Talvez deva ser assim. Talvez seja esta a minha forma de percorrer a via sacra - uma das minhas orações preferidas, desde sempre! - talvez seja esta a minha maneira de, pelo menos nesta altura, me encontrar com o meu Deus.
Habito algures, entre o que irremediavelmente sou e o que gostaria de ser. Uma espécie de terra de ninguém, como aquele que vejo nas fotos dos muros de Berlim. Vivo permanentemente entre ambos os lados do muro a vaguear de um lado para o outro, sem sentir que pertença inteiramente a qualquer um dos lados. Talvez viva mesmo em cima do muro, como sabiamente me disseram há uma eternidade, e que tanto me questionou na altura. Ou talvez essa terra de ninguém, onde nada se cultiva e nada cresce, seja efetivamente a minha terra. Talvez seja essa a minha pertença. Talvez seja por isso que tanto deteste as situações de transição, que não são carne nem peixe. Talvez seja por isso que fale tantas vezes na impossibilidade de se desejar sol na eira e chuva no nabal. Talvez seja por isso que privilegie de forma tão intensa aqueles que têm a sua terra, própria, inteira, e a conseguem defender contra tudo e contra todos. Talvez seja por isso que gosto tanto daquela sensação de andar com a mochila às costas, do efémero, do HAA, Hoje, Aqui e Agora. Talvez seja por isso que ando tão cansado de andar à procura de pouso, de terra minha, de terra firme, onde consiga instalar mais que uma mera tenda para passar alguns dias. Talvez eu não seja feito para passar mais que apenas alguns dias. Talvez seja isso mesmo que eu sou: efémero.

Comentários

Mensagens populares deste blogue