Todos os dias cumpro o meu pequeno ritual: chego, tiro o moleskine e o computador, ligo-o, abro, invariavelmente, os mesmos programas, dou Graças e inicio o meu dia. Creio que terá sido em Taizé que comecei a valorizar estes rituais profanos que me introduzem no quotidiano. Mesmo agora, que tenho a cabeça já lá, antecipo com muito gozo o chegar ao calor daquela igreja, despir o casaco, descalçar-me, sentar-me, e deixar que o espírito me invada e tome conta dos meus pensamentos. Ao fim de alguns dias a fazê-lo penso no ritual japonês do chá, que nós não conseguimos entender, mergulhados na nossa pressa de viver.
Comecei ontem a ouvir o que oiço todos os anos: que já tenho
a cabeça em Taizé. É verdade. Por um lado, tem mesmo que o ser. Imperativos de
organização fazem com que tenha que organizar ideias e momentos e ficheiros e
contactos em função daquela semana de excelência. Mas, tal como acontece com os
meus quotidianos rituais profanos, há já um gozo de antecipação, um mergulhar
no espírito, que lentamente se vai sobrepondo ao que tem que ser.
Particularmente quando falamos de amor, a perspetiva do
encontro é quase tão boa quanto o próprio encontro, como tão bem o disse Saint
Exupéry. Assaltam-nos as memórias, despertam-se os sentidos, preparando-nos
intimamente para o pormenor - o amor é feito de pormenores - como que vestindo
a alma para o tão desejado reencontro.
Sim, talvez já comece
a estar, de certa forma, em Taizé. Até porque Taizé, particularmente este ano,
irá ser presença espiritual, sinal do amor que não se vê mas que pulsa nas
entranhas e preenche, complementa, completa, e faz com que viver intensamente valha a pena.
Sim. Talvez parte de mim esteja já em Taizé.
Deus seja louvado!
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