Ontem foi o primeiro dia do resto da vida da Ana. No domingo já a tínhamos deixado em Vila Real, onde vai ficar este ano, e regressado de mãos vazias e coração apertado. É o nosso primeiro rebento adulto, que já tem o seu próprio apartamento e o seu próprio destino entre mãos. Ontem, ao jantar, perguntei em tom de brincadeira se ela não viria jantar. Foi o suficiente para ficar um pequeno silêncio... por pouco tempo. Tem havido uma espécie de preparação natural lá em casa, a partir da altura em que eles entram para a faculdade: uns dias vêm jantar, outros não, já nos conseguimos deitar apesar de alguns não estarem ainda em casa, já conseguimos adormecer com o sobressalto de não termos as camas todas ocupadas. É uma passagem facilitadora para nós que, pais galinhas e filhos pintainhos, fomos vivendo a vida toda juntos. Torna as coisas menos difíceis, ainda que antes de ir para a cama tenha ido ao quarto dela, como faço sempre, e o tenha visto arrumado. Está mesmo noutro lugar!

Ontem partilhava isto tudo e diziam-me que tenho uns filhos espantosos. Eu sei. Ninguém melhor que eu o sabe. Vou tendo cada vez mais gozo no gozo dos meus filhos, o que até pode ser estúpido se pensarmos que eu digo isto desde a altura em que foram concebidos. Mas eu, com todas as minhas incongruências, com todas as minhas fragilidades, com toda esta procura do caminho às apalpadelas, nasci para ser pai. Não conheço amor maior que os meus filhos, nem incondicionalidade como a que eu tenho por eles. E o bom é que eles sabem-no. Refilamo-nos muitas vezes, brincamos, ralhamos, rezamos, jogamos, cantamos e dançamos, e não há nada que valha a pena viver ou fazer que não tenhamos feito juntos. Desde cantar a altos berros no carro "tu és a estrela do meu sonho", dançar "Pra cima, pra baixo" do Pedro Abrunhosa enquanto íamos para qualquer lado, "enquanto houver estradas par andar" do Jorge Palma, até às noites em que dormíamos todos na minha cama enquanto a Isabel estava no cruzeiro ou nas colónias ou em qualquer outro lado porque qualquer pretexto era bom para dormirmos todos encavalitados uns nos outros na minha cama.

Deus! como adoro ser pai!

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