Pensei eu, erradamente (as coisas que eu penso erradamente davam para fazer um novela!) que por esta altura já não sonharia. Ainda há pouco tempo, num dos dias de reflexão, perguntaram-me qual era o meu sonho. Curiosamente, deu-me uma branca e respondi uma banalidade qualquer. Para além de aquela não ser a altura nem o interlocutor ideal para grandes renovações, a questão é que não tinha havido grandes espaços para sonhos. Já plantei árvores, já fiz filhos, vou escrevendo por aqui (e isso chega-me, obrigado) e já não há nada de substancial que  me faça querer mover montanhas. Deveria, portanto, passar a sonhar menos e a dormir melhor.

Pois...

Hoje fui caminhar. Como tem acontecido sempre à quarta-feira, quando chego tudo é cinzento. À minha volta, as nuvens anunciam tempestade, o frio entra-me pela gola dentro e nem o bolso do casaco me aquece as mãos... quanto mais a alma! Quando regresso ao carro, no entanto, o panorama alterou-se radicalmente. Sento-me ao volante mais feliz, mais sereno, mais pensativo, mais sonhador, com a alma incomparavelmente mais cheia. E com os sonhos à flor da pele!

Um padre amigo dizia que mais vale uma vida gasta que enferrujada. Não me parece muito difícil morrer enferrujado. Acabadas as grandes conquistas, a tentação de se deixar ir, o conforto das certezas e as desculpas das conveniências são grandes pretextos para se ir deixando de viver. Eu sei-o porque sou bom a utilizar esse tipo de desculpas e justificações para me deixar estar. E estaria muito bem se não tivesse visto a  apresentação de Timor e não me tivesse apetecido ir para lá de armas e bagagens, se não estivesse agora mesmo a vibrar de vontade de regressar a Taizé, se não projetasse já uma nova caminhada a Santiago, se não chegasse a casa estafado mas feliz depois de um dia de reflexão... a questão é que eu gosto de me sentir vivo, a questão é que gosto de vibrar, a questão é que gosto pouco que um dia seja meramente seguido do outro, sem que aconteça nada que me aqueça a alma. A questão é que eu preciso de sonhar, ainda que de dia, e imaginar felicidades.

Ainda que as noites sejam acordadas a tentar encontrar formas de as tornar possíveis.

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