Estávamos todos a ouvir o Fredo, emocionados até à medula - há vidas onde parece que aconteceram trinta vezes mais coisas que nas nossas e em metade do tempo - e eu pensava numa conversa que tivéramos alguns dias antes. O desassombro com que se assume a própria vida, sem máscaras ou fantasias, é essencial para que o encontro pessoal possa servir de catapulta para novos voos. Eu levei muitos anos a perceber a inevitabilidade de o fazer, de tão entretido que andava a brincar às pessoas, num processo que parece não ter fim porque volta e meia regressa à base com pontas ainda (mais) soltas. E sempre, sempre, a partir de motores fora de bordo, como eu lhes chamo. Pessoas que me conseguem ler com uma facilidade que me desconcerta sempre, que me dizem coisas que me chocam à partida mas depois vão fazendo caminho, lenta e progressivamente, por entre as fissuras que o tempo e a vida não conseguiram sequer disfarçar. Pessoas muito diferentes entre si, por vezes diferentes para mim, mas que têm como denominador comum o condão de me desvendarem de mim próprio e me levarem a perscrutar outros horizontes.

E eu com o desejo absoluto de serenidade como pano de fundo. Parece que quanto mais a persigo mais longe estou, mais arredado ando do caminho certo, afastando-me inexoravelmente de mim próprio.

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